MB Animações: To Your Eternity: Por que amadurecer é tão doloroso?

Recentemente, a adaptação em anime do mangá “To Your Eternity” (Fumetsu no Anata E) chegou ao seu fim. Com seus 20 episódios, a trama foi, para mim, uma das maiores e intrigantes surpresas que tive no meio da animação durante este ano, sendo muitas vezes um gatilho para a autorreflexão sobre o quão difíceis e necessárias podem ser nossas experiências como indivíduo.

Além de que, de forma metafísica, a obra levanta diversos questionamentos sobre propósito, perda e evolução, e conta com uma direção de animação surpreendente do Studio “Brain’s Base”. Mas tudo isso merece mais do que uma mera apresentação, merece uma análise que se desenvolve com o tempo (evolui, talvez?) e acho mais do que válido uma resenha à altura.

Bem vindos ao MB Animações de hoje. Prepare seu lenço para enxugar suas lágrimas e venha entender o porquê essa narrativa é tão importante na atualidade.

A Trama

“To Your Eternity” é um mangá escrito e ilustrado por Yoshitoki Ōima (A voz do Silêncio), publicado na revista Weekly Shōnen Magazine desde novembro de 2016, com os capítulos individuais compilados pela Kodansha. Recebeu sua adaptação em anime em 2021 pelos Studios “Brain’s Base”. A história acompanha uma entidade desconhecida capaz de assimilar criaturas mortas e transformar-se nelas. Inicialmente, a entidade começa como uma pedra, depois se transforma em um lobo, que faz amizade com um garoto que vive sozinho em uma região gélida. A partir disso, a criatura começa a aprender mais sobre a vida, e tudo mais que a envolve, como sentimento de perda, alegria, tristeza e até mesmo a raiva.

 

A animação segue de forma fiel o mangá (que já temos review aqui no nosso site). Todavia, a princípio, a entidade descrita acima evolui com base na experiência obtida por seres que passaram por sua existência e que vieram a falecer, deixando suas marcas e aprendizados. “Ela” chega à terra com um propósito: entender, observar e experimentar cada momento, seja  de alegria, tristeza ou raiva. Cada experiência é um aprendizado e uma vivência nova. O anime se concentra (pelo menos nessa primeira temporada) em 4 arcos principais, onde esses estímulos passam a ser recebidos e isso corrobora para sua evolução.

 

 

Em uma abordagem sem spoiler, a obra demonstra o domínio sobre os personagens em cada um dos seus arcos presente. Temos momentos de dor, alegria, tristeza, dor… (eu já disse dor?), em que o foco principal se baseia na construção da relação entre o personagem principal (chamado posteriormente de Fushi) e os indivíduos a sua volta. Além disso, as decisões do personagem têm peso e efeito em tudo ao seu redor, não deixando nada “superficial” demais. Desde já registro que, se você é fã de ação, não se preocupe, pois a narrativa também tem um objetivo direcionado a algumas lutas, apesar de o foco estar mais na casualidade e no resultado delas.

 

Viver machuca? 

Friederich Nietzsche, filósofo alemão do século XIX, e uma de suas máximas defendia a tese de que “Aquilo que não me mata só me fortalece”. O que, trazendo para o contexto real que a obra tenta passar sobre a metafísica, é uma citação coesa. Não de um ponto niilista, mas de superação do mesmo em troca de sentido, já que Fushi ao longo da obra sempre é proveniente de “Má sorte”. Alguns inimigos, acasos do destino e seu propósito já pré-estabelecido, são movidos por uma vontade de sempre prejudicar algo ao seu redor em troca de sua evolução.

O estimulo para seu aprendizado causa dor, em si ou em algo, todavia, se manter resiliente é necessário e Fushi aprende isso. A trama toda é focada em uma mensagem que, em meio a percas, tristeza e salubridade, a essência de procurar evoluir se mantém por mínima que seja, e ele se adapta a isso, com as características de quem está ao seu redor (não somente de forma física).

 

 

A animação

Partindo pro ponto de vista técnico da obra, o estúdio de animação que a comandou  (Brain’s Base) atuou com um magnífico empenho. Cenas de ação, design dos personagens, fluidez e movimentação, tudo foi entregue de forma coerente para o peso emocional da narrativa. Ponto que chama atenção é a fluidez da transformação do personagem, onde cada detalhe de efeito foi pensado para que tivesse o máximo de catarse que o mangá projeta.

 

Vale a pena?

Se você gosta de ação, drama, Shōnen e Seinen, o anime é pra você. A obra consegue transitar por essas demografias sem perder seu ritmo principal e agrada a todos, tendo um peso emocional grande desde seu 1° episódio. Cada cena atua como catalisador de emoções no espectador. Além de que, por trás de sua metafísica, a obra passa uma das mais belas lições humanas, de viver apesar do sofrimento, que é necessário resistir e que se pode tirar o proveito disso.

“Viver é sofrer, sobreviver é encontrar algum significado no sofrimento”

Friedrich Nietzsche

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