MB Games: Danganronpa 2: Goodbye Despair
No mundo capitalista, uma coisa é regra: precisando ou não, se algo fizer sucesso financeiro, haverá pressão para criar uma sequência, e com a história dos estudantes da academia Auge da Esperança não foi diferente.
Dois anos após o lançamento de Danganronpa: Trigger Happy Havoc, a Spyke Chunsoft lança a continuação Danganronpa 2: Goodbye Despair.
Vale lembrar que como o jogo é uma continuação, algumas coisas foram omitidas por serem iguais ao primeiro. Recomendo que dê uma olhada na review de Danganronpa: Trigger Happy Havoc antes.
Antes de falar do jogo em si, gostaria de deixar uma questão clara: eu sou uma pessoa que detesta spoilers, então evito colocá-los nas resenhas, mas, além disso, sou a pessoa que acredita que até sinopses são spoilers.Para mim, é interessante entrar em um jogo sem saber nada sobre ele.
Caso você que esteja lendo seja uma pessoa igual a mim e queira apenas saber se vale a pena gastar seu suado dinheiro na continuação, mas quer sentir a emoção das mudanças de jogabilidade e de trama enquanto joga, a resposta curta é: Danganronpa 2 é uma sequência fantástica do primeiro jogo. Embora tenha cometido os mesmos erros, vale totalmente a pena se você tiver gostado do primeiro.
Agora, caso queira saber um pouco mais sobre, me acompanhe:
Sinopse
Assim como no primeiro, diversos alunos são convocados para a Academia Auge da Esperança (no original, Hope’s Peak Academy). Porém, desta vez, graças a alguma questão que foge da nossa compreensão nesse começo de jogo, os alunos vão parar em uma Ilha Paradisíaca, chamada Ilha Jaguadarte (no original, Jabberwock Island).
Nela, somos recebidos por Usagi, uma coelha de pelúcia com um visual que remete a Mahou Shoujos. Ela comenta que é a responsável pela sala, que os alunos estão em uma viagem para confraternização e que é necessário conversar e socializar com os demais alunos para que possam obter os chamados “Fragmentos da Esperança”. Assim que todos obtiverem uma quantidade relativamente alta desses Fragmentos, quer dizer que todos são muito amigos e as férias acabaram.
Porém, depois de pouquíssimo tempo, Monokuma aparece de novo, rouba os poderes que Usagi dizia ter e se torna o verdadeiro responsável pela excursão, transformando-a novamente em um Jogo de Mortes, com as mesmas regras do primeiro.
O que tem de novo na História, então?
O primeiro ponto que chama a atenção é que o protagonista da vez é Hajime Hinata, O Supremo??? O protagonista dessa vez não conhece seu talento especial, porém, somos apresentados, logo de cara, a um personagem que será tão protagonista quanto Hinata. Nagito Komaeda, O Sortudo Supremo.
Com isso, conseguimos uma nova perspectiva de jogo. Nosso personagem não é alguém que por acidente estava lá, mas sim, alguém escolhido. Além disso, externamente também vemos as ações da pessoa que foi escolhida apenas pela sorte e como ela lida com isso, o que acaba sendo um dos pontos positivos desse jogo com relação às novidades.
Design de Personagens e de Som
Assim como no 1, Danganronpa 2 tem diversos designs únicos. Todos os personagens, exceto o protagonista, são visualmente bem interessantes. Seus talentos supremos acabam dando a extravasada necessária para que a sequência continue bem viva. Se no primeiro o talento mais diferenciado que tínhamos era Yasuhiro Hagakure, O Clarividente Supremo ou Hifume Yamada, O Fanfiqueiro Supremo, nesse temos Sonia Nevermind, A Princesa Suprema e Gundham Tanaka, O Criador de Animais Supremo. Ainda assim, seus talentos não os definem completamente, são apenas alguns traços de suas vastas personalidades.
Jogabilidade
O estilo de jogo é bem semelhante ao primeiro: conheça os lugares disponíveis, converse com as pessoas nos Tempos Livres e sempre que um mistério for solucionado, mais partes se abrirão.
Uma das principais mudanças é o ponto de vista. Enquanto no primeiro jogo, a visão é em primeira pessoa, no segundo, exceto por lugares específicos, como os dormitórios, você anda com o seu personagem em terceira pessoa com uma visão 2D, dando a volta pelo perímetro da ilha procurando o lugar que você deseja explorar. Acredito que a mudança acabou não sendo tão bem vinda, visto que foi revertida no terceiro jogo, mas isso já é spoiler de uma resenha futura.
Existe o sistema de teleporte para determinados pontos, mas o jogo te encoraja a andar com um bichinho virtual que evolui com a quantidade de passos dados. Além disso, o bichinho virtual tem um medidor de Esperança que cresce a cada vez que ele recebe um presente e um medidor de Desespero que aumenta conforme você é relapso com ele. Dependendo da evolução, você pode ganhar moedas e até mesmo habilidades para os Julgamentos de Classe.
Julgamento
Agora, vamos aos julgamentos. Visualmente, eles são muito parecidos com os do primeiro jogo. Ocorre uma conversa contínua em que os pontos que podem ser contrariados ficam destacados em amarelo.
Você, com as investigações, junta provas e atira nas palavras que aparecerem com suas “Balas da Verdade”. É necessário entender muito bem tanto o contexto quanto qual bala usar. Também foram acrescentados alguns mini-games novos dentro do Julgamento.
Além de uma repaginação da Forca, o jogo rítmico foi alterado e se tornou um Ataque de Pânico. A jogabilidade funciona da mesma forma, porém, visualmente você precisa destruir os argumentos que o personagem usa de escudo, literalmente, e quando os escudos forem destruídos, você pode dar o argumento final.
Além disso, durante alguma explicação sua sobre alguma pista, alguém pode te interromper. Aí começa um Confronto de Réplicas (no original, Rebuttal Showdown) em que cada um vai apresentando o que tem, enquanto você precisa cortar os argumentos alheios com suas pistas, que agora se tornaram Katanas.
Quando é necessário criar uma linha de raciocínio a partir de algumas perguntas, se inicia um mini-game chamado Mergulho Lógico (no original, Logical Dive) em que você controla um mini Hinata andando de skate pelo subconsciente e conectando os pontos.
O julgamento continua incrível, e suas melhorias apenas o deixaram ainda mais polido, o que é interessantíssimo. Infelizmente, como nem tudo são flores, a quantidade de coisas adicionadas, somadas a uma necessidade de fazer um checklist e fazer todos os minigames dentro de cada caso, faz com que os casos sejam bem mais longos do que no primeiro jogo, às vezes fazendo com que eles dobrem de tempo.
Boa parte dos casos são únicos, não apenas pelo julgamento, mas pelas circunstâncias que os personagens morreram, além dos motivos pelos quais esses atos foram cometidos. Na continuação, graças ao melhor desenvolvimento dos personagens, todos os motivos para cometer os crimes são no mínimo críveis (com a exceção de um que eu falarei mais adiante) e você pode simpatizar bem mais com os personagens.
A Ilha em si foi uma grande abertura para a franquia: não se limitando apenas às salas de um colégio, foi possível abrir novas ambientações, passando por diversas áreas temáticas e tornando os assassinatos cada vez mais insanos.
O Melhor ponto de Danganronpa 2
Apesar das relações serem realmente melhor estabelecidas, o que é um dos grandes pontos de Danganronpa, o que realmente me pegou de jeito é o uso da metalinguagem.
Explicando: A metalinguagem é quando usamos algo para falar dessa mesma coisa. Bakuman, por exemplo, que é um mangá falando de mangás. Ou Era uma vez em Hollywood que é um filme sobre a indústria de filmes.
Danganronpa 2 tem uma metalinguagem muito forte, tanto como jogo quanto como uma sequência de Trigger Happy Havoc.
A sequência está ciente dos erros do jogo anterior e do que nós, enquanto jogadores do primeiro jogo, já esperávamos da fórmula., e ela não apenas subverte isso, como zoa com a nossa cara.
Uma cena que vimos mais para o fim do primeiro jogo, pode acontecer muito antes do esperado no segundo, com um comentário de Monokuma falando “Que tipo de história contaria isso só no final?” Ou ideias que foram usadas em crimes passados são sugeridas no meio dos novos julgamentos seguidos por comentários como “Isso nem deve ser possível”.
Por esse ponto, eu comentei que Danganronpa 2 é uma sequência perfeita. Ele conhece muito bem sua audiência e brinca com ela! Como jogo único, ele pode ter alguns defeitos que comentarei aqui, mas enquanto sequência, além de cumprir tudo o que uma boa sequência pede, como a expansão do universo apresentado na história original, ele ainda consegue mostrar que presta atenção nos fãs.
Pontos Negativos
Infelizmente, o maior ponto fraco do 1 continua aqui. A linearidade excessiva pode irritar algumas pessoas. A liberdade de não poder escolher qual seu caminho, nem sequer na hora de investigar as pistas, acaba tirando um pouco da imersão de ser um detetive. Diversas vezes, os próprios personagens acabam te falando onde pesquisar, então, se você gosta de bancar o Sherlock Holmes, esse jogo pode acabar não sendo pra você.
Como é um jogo japonês, infelizmente é de se esperar um pouco de fanservice no estilo ecchi. Nada explícito ou constante em muitos personagens, mas um em particular me irritou. A aluna em questão é alvo do mesmo alívio cômico da personagem Tamaki Kotatsu de Fire Force, onde muitas vezes, se ela tropeçar, cair, ou apenas dormir, ela vai se encontrar de forma sexualizada e admito que enquanto torci pra que vários outros personagens continuassem vivos, eu só queria que essa morresse logo pra não ter mais essa forçação de barra!
Além disso, o ponto que eu comentei acima sobre a metalinguagem acaba saindo pela culatra às vezes. Poucas vezes, mas ainda assim… Durante a campanha, existem itens e determinadas ações que foram criados apenas para fazer referência ao primeiro jogo, sendo que, quando você pára e pensa na relação real daquilo com o jogo, enxerga furos de roteiro.
Infelizmente, Danganronpa 2 também tem o pior caso de assassinato de toda a franquia: nem o motivo nem o culpado nem sequer a forma com a qual o crime foi feito, nada nesse caso específico se salva pra mim. Nem mesmo a execução, que sempre demonstra a criatividade dos produtores, foi interessante. Uma pena, pois é em Danganronpa 2 que também temos o melhor caso de toda a trilogia!
E, finalizando, o arco final do jogo soa como se fosse algo surgido do nada. É uma reviravolta que tem tão poucas pistas durante o desenvolvimento da trama que é como se não existisse nenhuma configuração pré-estabelecida para esse acontecimento. O fim do jogo é abrupto e a continuação disso está no anime Danganronpa 3: The End of Hope’s Peak High School – Future Arc. Embora isso seja um prato cheio para os fãs de histórias intermídias, quem gostaria apenas de se contentar com o jogo, pode sentir falta de uma conclusão real dessa saga. Ainda mais porque no próximo jogo, Danganronpa V3, não há relação com a Academia Auge da Esperança.
Considerações Finais
Danganronpa 2 consegue se manter muito bem enquanto sequência, aprimorando tanto os acertos quanto os erros de seu antecessor.
Seus personagens são mais interessantes, mais carismáticos e as relações entre eles são gostosas de se criar. Nagito Komaeda, em específico, se tornou uma marca para todo o universo da série. O clima de suspense ainda está ali enquanto você tenta entender se Usagi é amiga ou não, como Monokuma chegou até lá e principalmente, como acabar com esse jogo de morte.
Mesmo com a falta de liberdade, vale a pena explorar o jogo, conhecê-lo e adentrar ainda mais nesse universo. Se for fã de animes, como já citado anteriormente, Danganronpa 3 é canônico na história e é continuação direta, mas não se preocupe, caso você queira jogar o terceiro jogo, não precisa assistir a animação.
A metalinguagem para com o público também é algo que pode prender.
No geral, o que eu afirmei no início se mantém: se gostou do primeiro, a chance de gostar ainda mais desse segundo é grande.