MB HQ’s: Marvel Teens – Miles Morales Vol. 1

Quando se fala de histórias em quadrinhos, fala-se também de um “acompanhamento social”, uma vez que o quadrinho reflete tendências e anseios da sociedade, transformando-os em uma voz e, claro, levando dinheiro como bons negócios. Tendo isso em mente, semanalmente teremos uma resenha de alguma HQ Marvel ou DC, para abrir o leque e demonstrar como existem boas histórias contadas pelos comics. Para a base inicial, peguei duas coleções em andamento da Marvel (ainda não decidi sobre DC), uma de uma fase mais antiga e outra mais recente. Começando por Miles Morales.

Miles Morales é um personagem extremamente complexo, mas atualizado. O personagem veio num momento de mudança da Marvel, devido a uma das várias quedas de popularidade. A necessidade de renovar seus heróis mais uma vez se fez presente para atender as mudanças da geração.

Nos anos 2000, após passar por um período de falência e ter se reerguido por conta da venda de direitos cinematográficos do Quarteto Fantástico e X-Men, para a Fox, e do Homem-Aranha para a Sony, a Marvel precisava captar a nova leva de leitores atraídos pelo sucesso dos filmes que foram feitos.

Para não misturar com as versões clássicas e mexer mais uma vez na história de seus personagens, foi decidido criar um novo universo, com novos personagens e novas origens, para que o  público, vidrado com os filmes, acompanhassem toda essa nova trajetória. Para isso, o selo Ultimate, com uma nova linha editorial, foi criado dentro da empresa.

A mudança foi gigante, criando-se até um novo universo, a Terra 1610 (diferente da Terra 616 que é o universo principal da Marvel). Houve diversas mudanças e, entre elas, o Homem Aranha. E é sobre essa HQ que iremos falar.

O Homem Aranha deste novo universo é Peter Parker, um garoto de 15 anos que foi picado por uma aranha que servia de testes para o Soro do Supersoldado desenvolvido por Norman Osborn. Até aí, tudo bem, nada diferente, exceto que o seu primeiro amor, Gwey Stacy, está viva e que alguns vilões estão… diferentes.O plot-twist do universo Ultimate começa a partir dessa HQ, a famosa Ultimate Comics Spider-Man de 2011 onde um novo herói nos é apresentado: Miles Morales.

Miles é um garoto negro da periferia e seus pais se esforçam para dar melhor condições de vida para ele. Nosso herói é candidato em um sorteio, para entrar no melhor colégio da região e tem um tio que, digamos, não segue o caminho correto. Em um de seus roubos, o tio de Miles entra nas empresas Osborn e acaba trazendo acidentalmente uma aranha de experimento para casa, aracnídeo qual acaba picando Miles.

Nosso jovem candidato a herói, a princípio, pensa que virou um mutante, que também sofrem com o ódio da sociedade nesse universo, e entre os preconceituosos está o seu próprio pai. Ao conversar com seu melhor amigo, Morales  descobre que não é um mutante, mas que agora tem o mesmo poder que o Homem Aranha. Miles não aceita ser um super-herói, ele quer apenas uma vida normal. Porém, após Peter ser morto, nosso protagonista passa a perceber a responsabilidade de seus poderes e começa a lutar contra o crime.

Nada é fácil. Miles precisa dividir sua rotina de estudos com o combate aos bandidos, além de precisar esconder de todos o seu manto. Porém, tudo muda quando seu tio aparece chantageando Miles para que o garoto use seus poderes para interesse pessoal, eliminando um terrível bandido que veio do México caçar a cabeça do tio. Como Miles irá encarar tudo isso?

O primeiro volume deste encadernado compila a parte de apresentação do personagem. Miles é um garoto bondoso e de personalidade forte. Ele tem que lidar com diversos problemas mais reais do que sair “chutando bundas de vilões e fazendo piadas sem graças”. Os problemas sociais e de relacionamento com sua família o faz mais próximo dos leitores atuais.

Miles demora a aceitar seus poderes e tem receio de como seus pais reagiriam a sua atual condição, ao mesmo tempo que o desejo de fazer a diferença com o dom recebido o coloca em dúvida e inseguro da melhor decisão a tomar. Sem contar que Miles é negro, filho de um ex-detento e morador da periferia. A realidade de muitos nos EUA e por todo mundo.

A recepção ao novo personagem agradou muito, pois era uma mesma história recontada de forma atual, com um personagem carismático e com um poder incrível de influenciar e atender o anseio dos novos leitores.

O arco reunido neste primeiro volume da coleção Marvel Teens da editora Panini é de uma leitura gostosa que não perde o fôlego, deixando uma sensação de curiosidades sobre o que virá acontecer na trajetória de nosso herói.

Um dos criadores de Miles Morales, Brian Michael Bendis, trabalha o roteiro dessa primeira parte de forma brilhante, criando uma camada de complexidade de personalidade sobre os personagens daquele núcleo, enriquecendo ainda mais a trama.

As artes desse encadernado passaram por três artistas. Sara Pichelli, a criadora do personagem, Cris Samnee e David Marques, sendo a arte de Samnee inferior a dos demais, o que é facilmente notado por ser uma arte menos detalhista e mais “rude”.

Essa versão da Panini, lançada em setembro de 2020, faz parte da coleção Marvel Teens. É de ótimo custo benefício, com capa cartonada, lombada quadrada e papel de boa qualidade, totalmente acessível para novos leitores que queiram começar a ler comics.

Finalizando, Miles Morales é uma das gratas surpresas da Marvel, que vai conquistando o seu espaço com muita competência e carisma. Essa HQ é fantástica para conhecer o personagem, que atualmente tem uma importância gigante para a editora, conquistando os corações dos fãs mais jovens e partindo para outras mídias. Ele não acabou com o Peter Paker, como muitos fãs criticaram nos anos 2000, e é tão famoso e legal quanto o seu “mentor”. Cumprindo o seu papel social como poucos e invadindo novas mídias, como a das animações e games.

É muito legal ver as crianças atualmente falando do Miles com admiração e carinho como eu falava do Peter quando tinha a idade delas.Talvez essa seja a maior conquista que, como amantes de quadrinhos, possamos ter.

Até mais!