MB Review: Oxente, de Rhenato Guimarães

Não é exagero falar que uma das iniciativas mais interessantes que temos hoje para os mangás nacionais é a Action Hiken. Sendo uma espécie de Jump mensal, a revista junta os mais variados nomes de quadrinistas brasileiros fazendo histórias incríveis. Esta iniciativa tem chamado a atenção e pode ser uma porta de entrada estupenda, tanto para artistas quanto para leitores, de conhecer histórias que só o Brasil pode proporcionar.

E o caso de hoje não é diferente. Vindo direto das mãos de Rhenato Guimarães, Oxente é um prato cheio para quem quer se divertir com tudo o que um shonen de lutinha pode oferecer.

Sendo publicado na revista desde Julho de 2018, Oxente tem uma base sólida de fãs e faz jus a isso. Sua história conta sobre Serafim, o filho do Lampião. Sempre sofrendo preconceito devido a isso, o garoto teve uma infância complicada, para dizer o mínimo. E, querendo trilhar um caminho diferente do pai, Serafim quer ser o maior herói que o nordeste já viu!

Qualquer semelhança que sentiu com One Piece ou Naruto não é mera coincidência. Além de uma clara influência, o mangá brinca com diversos conceitos de ambas as séries e muitas outras. Mas se engana aquele que acredita que é “Só um One Piece no Brasil”, pois o mangá contém uma carga de personalidade muito interessante.

Começando com o universo, apesar de estarmos trabalhando com o Brasil, este é um mundo alternativo, em que poderes especiais podem ser obtidos de algumas formas. Uma dessas formas é hereditária (Sim, a mesma de Boku no Hero) e é justamente isto que Serafim obtém. O poder de Serafim é um aprimoramento nas lutas, mas vem com uma certa dualidade. Ele cresce com os sentimentos bons ou com os sentimentos ruins.

O poder de Serafim virá quando o garoto sentir a necessidade de proteger os outros, a busca por defesa e o heroísmo. Mas também virá quando ele sentir ódio, desejo de vingança, vontade de destruir qualquer pessoa. Essa dualidade nos é apresentada logo nos primeiros capítulos e já abre margem para possíveis interações futuras das mais diversas, além de mostrar claramente o conflito do nosso protagonista.

Seu desejo de se tornar “o maior herói” não é apenas em busca de reconhecimento como Naruto ou um altruísmo puro como Deku. Pode-se dizer, na verdade, que sua motivação é bem próxima a de Peter Parker ou de Yuji Itadori, de Jujutsu Kaisen. O entendimento de que ele pode ser alguém bom reforçado por uma figura paterna. Isso somado com o estigma carregado desde sempre de “filho do Lampião”, que só faz com que ele queira se afastar ainda mais do caminho do mau, mas não é uma trilha fácil e, até o momento, o garoto tem se mostrado bem cinza em sua moralidade, apesar de claramente querer fazer o bem.

As inserções de algumas questões da cultura brasileira também estão bem presentes, principalmente no jeito de falar. Então vá se preparando pra ler uns “num to guentano”, “painho”, “moleque mulambento” e muitos outros coloquialismos que usamos constantemente. Isso, além de dar uma pitada de comédia, faz com que muitos de nós nos vejamos dentro do mangá enquanto estamos lendo. Além de misturar muito bem diversas referências a cultura de mangás e do Brasil, conseguindo na mesma cena unir One Piece com A Praça é Nossa.

Ainda falando da brasilidade do mangá, a obra pode incomodar um pouco, devido ao fato de apresentar o nordeste apenas do sertão, sendo este um dos estereótipos mais fortes da região. Contudo, como a obra está em seu começo e o autor passou 10 anos de sua vida no Maranhão, tem tudo para se expandir.

A arte é boa, cumprindo bem seu propósito na tênue linha que alterna entre comédia e luta. Destaque para como a ação é representada, com um dinamismo que não deve em nada a mangás da Jump. Tanto o protagonista quanto os coadjuvantes que estão acompanhando Serafim tem seus momentos interessantes agora nesses dois primeiros volumes. Preciso admitir que até o momento, meu personagem favorito tem sido o tatu (Sim, isso fará sentido para quem leu).

Oxente é um mangá divertidíssimo pra quem nunca experimentou um quadrinho nacional e gosta do shonen de lutinha. Com personagens envolventes e uma história que tem muito a oferecer com o que já foi apresentado, vale muito a pena conhecer. Atualmente, o mangá está em seu 14º capítulo na revista Action Hiken e já teve dois encadernados, ambos lançados em financiamento coletivo, que cobrem até o capítulo 13. A periodicidade do mangá é bimestral e você pode acompanhá-lo online gratuitamente aqui.

Agradecemos ao Estúdio Armon por ceder o exemplar físico para nossa análise. Muito obrigado! Caso queiram adquirir esse e mais mangás publicados pelo Estúdio, acessem a loja Armon.

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