MB Animações: Kanon
Em uma cidade que o tempo não para, o passado, presente e futuro se espalham pela paisagem, mas o mesmo não pode ser dito sobre algumas pessoas que ali vivem. Em Kanon, somos introduzidos aos dramas românticos de nossas amadas heroínas pelo protagonista Aizawa Yuuichi. Entre memórias que se perderam e dramas chorosos, seguimos com as resenhas das obras da colaboração entre a Kyoto Animations e KEY, e hoje trago uma pequena análise sobre Kanon.
Sinopse:
Aizawa Yuuichi passa a viver com a sua tia Akiko e sua prima Nayuki, voltando a uma cidade onde outrora viveu diversas experiências e conheceu pessoas. Porém, após 7 anos de ausência, pouco se lembra do que viveu e daqueles que estavam ao seu lado.
E aqui estamos novamente, e dessa vez o tema é Kanon, seguindo com minha trilha de sofrimento em resenhar as belas e tristes adaptações de visuals novels (VNs) da KEY pela Kyoto Animation. A direção da obra fica por conta de Tatsuya Ishihara, mesmo diretor de Air e Clannad After Story, e autoria de Jun Maeda (Angel Beats, Clannad e Air). A direção de som fica por conta de Youta Tsuruoka. Kanon recebeu 24 episódios pela Kyoto em 2006, mas é válido dizer que não foi sua primeira adaptação, já que a Toei havia se antecipado e produzido uma adaptação animada em 12 episódios no ano de 2002, e embora seja interessante citar essa breve adaptação não será discutida por aqui.
Sobre a direção:
Esse é o tópico que amo/odeio fazer, mas continuarei desenvolvendo. Eu gosto de dizer que a leitura de uma direção pode ser feita com critérios técnicos ou pela experiência, no mundo ideal, ambos deveriam ser aplicados, mas admito que sou um iniciante na parte técnica, e sobre a experiência, devo admitir, já vi muitos animes e conforme a experiência de conhecer novas obras se mescla com a maturidade, é possível notar algumas coisas.
Em Kanon, temos um ritmo que destoa da primeira produção da parceria Kyoto e Key, visto que são 24 episódios nesta segunda adaptação, e temos um ritmo que lembra muito um slice of life em diversos momentos, ganhando um peso dramático com o passar dos episódios. Também existe uma valorização do material base, os encontros que definem sua jornada em uma VN são muito bem representados, mas sem criar uma narrativa em que o protagonista parece se apaixonar ao conhecer cada personagem, os laços são construídos de forma única para cada arco. Mas, antes de me aprofundar na história, gostaria de citar a direção de som.
Caso se perguntem por que estou citando a direção de som, o fato é que com o passar dos anos tenho valorizado cada vez mais o encaixe e composição de trilhas sonoras, embora não possa dizer que tenho alguma noção de música, as cenas de drama em Kanon, ou qualquer outro drama, só tem o peso que conhecemos através da combinação dos elementos que compõem a cena. O encaixe da trilha sonora pode deixar uma cena muito melhor, ou pior, do que poderia ser. Nesse sentido, Youta Tsuruoka faz um belo trabalho, entregando-o nas cenas mais simples do dia a dia e nas cenas que caracterizam tão bem um drama.
Uma cidade de lembranças:
Em Air, tivemos os sonhos e a liberdade como guias importantes na cidade em que os acontecimentos se desenrolaram. Em Kanon, não é diferente, acredito que o fator milagre seja um tema importante, mas diria que a base das histórias é a memória, em uma cidade que o ritmo da vida parece mudar, algumas pessoas estão presas à memórias do passado, e essas pessoa são as heroínas que compõem a história, mas algo precisa mudar para que elas possam seguir em frente, e nesse ponto entra o nosso protagonista.
Aizawa Yuuichi é um garoto que se muda para uma cidade, não sabemos muito bem seus motivos, mas sabemos que não é a primeira vez que vive naquele lugar. 7 anos atrás ele viveu naquela cidade e seu retorno é o que possibilita que as coisas mudem, seu passado está conectado com as heroínas que acompanhamos. É válido dizer que em diversos momentos da trama, Yuuichi é chamado de interessante por diversos personagens, e eu não poderia concordar mais, se sobressaindo em relação ao protagonista de Air. Yuuichi é um personagem extremamente sarcástico, sincero e generoso. Suas falas muitas vezes ditam o humor da obra, mas sem afetar no tom dramático.
Particularmente, eu imagino a crueldade dos autores para sacanear protagonistas de VN. Em adaptações de animes, temos diversos arcos sendo mesclados, o que poderia levar a perda do impacto dos dramas, mas em Kanon posso dizer que os arcos parecem ganhar densidade a cada drama. Eu só observo o sofrimento do protagonista, e obviamente temos finais positivos, mas a mensagem de que “as coisas sempre dão certo no final” é uma mentira bem cruel.
Acho engraçado que meu trecho introdutório fale de passado, presente e futuro, mas o tema principal do anime seja a memória, mas sempre que penso sobre o roteiro desenvolvido e os dramas da obra tenho a sensação de que os personagens estão presos em algumas dessas perspectivas. Dizem que aqueles que olham demais para o passado tendem a ficar presos aos arrependimentos, e os que vivem apenas o presente se prendem a emoções momentâneas, e aqueles que olham muito para o futuro tendem a sofrer com a ansiedade do ainda não viveram, e é desse ponto que eu sinto que a história guia os dramas das suas heroínas.
As heroínas principais de Kanon são: Kawasumi Mai; Sawatari Makoto; Minase Nayuki; Tsukimiya Ayu, e Misaka Shiori. Embora possa parecer difícil de imaginar que cada uma dessas personagens tem seu arco, acredite, é possível!
O fato é que eu tenho uma grande empatia pelos roteiristas, que pegam dezenas de horas de material e tem de escolher que rota adaptar, o que deve ser cortado, quais trechos de outras rotas devem ficar, com quem o protagonista deve ficar no final, e só essa última me tiraria algumas horas de sono kkk.
Ainda sobre as protagonistas, devo dizer que, como sempre, temos personagens padrões de VN mas eu simplesmente adoro como lentamente elas acabam por fugir dessa forma padrão. Não estou dizendo que elas se tornam personagens totalmente originais, mas os seus dramas nos cativam o bastante para que elas ganhem mais individualidade. Pode soar engraçado, mas os vícios de linguagem dos personagens, replicados em todas as adaptações, individualizam as garotas de uma forma bem peculiar, e sim, isso soa muito zoado, mas você certamente consegue lembrar de alguém que fala Uguu a cada dois minutos.
Sim, eu sei que teoricamente deveria falar de arcos agora, mas é meio inevitável acabar soltando spoilers nessa parte do texto. Antes que cheguemos nessa parte, gostaria de deixar um comentário para quem não assistiu ainda. Gosta de sofrer?! Pois então eu te indico esse anime sem pensar, mas devo avisar que o ritmo da história no ínicio é um pouco lento. Não que isso seja ruim, mas pode incomodar quem não está habituado. O núcleo de personagens e a relação entre eles é um atrativo nessa parte inicial, mas não se esqueça que isso é um drama! Quando menos perceber, seu teclado estará molhado com suas lágrimas e sua carteira estará um pouco mais vazia pela curiosidade de conhecer o material base.
ATENÇÃO, ÁREA DE SPOILERS.
Se você chegou até aqui, é provável que: 1. Já tenha derramado lágrimas por causa de Kanon; 2. É uma pessoa bem curiosa; ou 3. Simplesmente, não tem coração.
Eu sempre acho complicado entrar na parte de spoilers, algumas dúvidas sobre o que dizer sempre tendem a surgir: quais eventos devem ser citados? Que personagens merecem destaque? Eu certamente tenho minhas dúvidas, mas isso piora consideravelmente nessas adaptações de VN.
A rota principal escolhida na adaptação é da Tsukimiya Ayu, e também figura como a minha rota favorita. Suas aparições são bem esparsas no começo e criam curiosidade sobre sua relação com o protagonista no passado. Nesse ponto, gostaria de dizer que as escalonada nos eventos dramáticos é muito importante, o peso das revelações, e a magia por trás dos milagres sempre se conecta muito bem com os sentimentos que estão sendo desenvolvidos, e nos faz perceber que as lembranças do passado são importantes, independentemente de representar um momento bom ou ruim, e que não é possível viver apenas do presente ou futuro.
Vale destacar também os arcos da Makoto e Shiori, que embora destoe muito entre si, já que o drama da Shiori é muito mais próximo da realidade, e o da Makoto tenha uma veia fantasiosa bem interessante, são nesses arcos que acabei por criar uma grande afeição pelo protagonista e pude perceber que a obra tinha muito mais a mostrar. Foi também neles que percebi que teria uma noite cheia de tristeza e café, em especial no da Makoto, que é o primeiro arco dramático a ser finalizado.
Por fim, gostaria de dizer que tem sido uma grata surpresa reviver a experiência de assistir essas obras. Particularmente, não valorizava a qualidade delas, visto que foram alguns dos meus primeiros dramas, e que fique aqui a promessa de retornar com as resenhas das outras adaptações.
Ps: Abertura de qualidade abaixo