MB Animações: Vanitas no Carte – Os tons de carmesim e azul de um mesmo céu
Vanitas no Carte é uma série que fez sua estreia na recente temporada de verão de 2021 e está disponível na Funimation de forma legendada e dublada. Além de contar com um belo design de produção e uma animação primorosa, somos apresentados a um mundo em que os contos de terror não existem apenas nos livros. Em especial, os vampiros, que foram popularizados por Drácula de Bram Stoker e agora figuram no imaginário coletivo, estando espalhados em nossa produção de cultura pop.
Em Vanitas, o universo da obra é dividido entre o mundo humano e o mundo dos vampiros e essa divisão, que não é apenas metafórica, mas também física, divide em tons diferentes a cidade de Paris, palco em que acompanhamos a aventura de Noé e Vanitas.
Sorrisos que desejo proteger, mas sei que a autora não vai permitir
E aqui estamos em mais uma review de anime. Dessa vez, consegui roubar o Vanitas do Misael, uma verdadeira máquina de escrita aqui do site.
A respeito de Vanitas, temos as seguintes informações:
Vanitas no Carte é uma adaptação em anime do mangá de mesmo nome, escrito e desenhado por Jun Mochizuki. É publicado desde 2015 na revista Gangan Joker (Shonen). A autora também é a criadora de Pandora Hearts, mangá publicado no Brasil pela Panini, e que será devidamente comparado com Vanitas por mim, pois mesmo que sejam obras de características bem individuais, também têm similaridades que representam muito a autora.
O anime de Vanitas tem produção pelo estúdio Bones e conta com 12 episódios, já tendo sido confirmada a segunda parte para janeiro de 2022. A direção ficou por conta de Tomoyuki Itamura (Hanamonogatari, Koyomonogatari, e Tsukimonogatari), diretor que produziu bastante no estúdio Shaft, com o seu nome figurando em diversas séries, em especial o Monogatari Series, sendo uma escolha muito acertada para tal. A estranheza do universo e personagens de Vanitas foi muito bem representada, e, embora possa soar como reclamação, a percepção que tive durante os episódios é que talvez a peculiaridade da série seria bem melhor representada pelo estúdio Shaft, mas como não compensa imaginar o que não aconteceu, vale ressaltar que a adaptação pelo estúdio Bones ainda é uma grata surpresa.
Sinopse:
Na Paris do século XIX, Noé Archiviste está em busca do lendário Livro de Vanitas. Enquanto viajava a bordo de uma aeronave, ele é salvo de um ataque de vampiro por um médico excêntrico que se chama Vanitas e que carrega o livro que ele procura. Ironicamente, o autoproclamado especialista em vampiros é um mero humano que herdou seu nome e o livro de seu mestre, o mesmo Vanitas da lenda. À medida que o estranho caso do Desfile de Charlatan surge, a capacidade do médico de restaurar a sanidade dos vampiros ao recuperar seu nome verdadeiro será muito benéfica.
Os termos estranho e belo não são o bastante para passar o sentimento que o universo do anime representa e, por isso, nesse ponto gostaria de ovacionar a Jun Mochizuki. Não sei se conhecem Pandora Hearts, mas recomendo muito que conheçam. A autora se utiliza de elementos e personagens de conto de fadas para compor Pandora Hearts, enquanto se equilibra em um mundo de batalhas e mistérios muito bem construídos. Em Vanitas, ela repete essa dose, mas dessa vez seu foco é no folclore europeu, se utilizando de figuras que geralmente conhecemos de filmes de terror, se apegando às representações folclóricas, adicionando sua visão e trazendo um universo próprio para essas representações.
Vai me dizer que isso não é um lobisomem??
Porém, deve-se ressaltar que o foco da obra é a relação entre vampiros e humanos. É nesse ponto que temos a sacada da autora para manter a riqueza da história, ela se utiliza do conceito de “nome verdadeiro” e “amaldiçoado” para trazer outras lendas à obra. Devo dizer também que, desde Pandora Hearts, me impressiono com os conceitos que a autora adiciona em seu universo e em Vanitas temos a premissa de que todo vampiro tem um nome verdadeiro, que seria um nome único, e que representa aquele vampiro. A partir do momento que esse nome é corrompido, modificado, o mesmo se torna um amaldiçoado, apresentando descontrole e sede de sangue. Nesse ponto, podemos falar um pouco sobre o mito do Vanitas.
PERIGO! Daqui pra frente teremos spoilers moderados.
Segundo a lenda, existia um vampiro que nasceu sob a lua azul e que, por conta desse acontecimento, ele passa a ser tratado como pária. Tomado por uma grande sede de vingança, decidiu se vingar de todos os outros vampiros, portando o Livro de Vanitas, um artefato capaz de corromper o nome de qualquer vampiro. Somos apresentados ao Vanitas logo no início do anime, mas não é o vampiro lendário que conhecemos. Vanitas é um humano que recebeu o nome e o livro de Vanitas e, ao contrário do seu predecessor, tem como missão salvar todos os vampiros.
Um dos principais pontos da obra é o passado de Vanitas, na verdade, é o passado da maioria dos elementos que compõem aquele mundo. Acho bem interessante que entramos em um cenário bem único mas sabemos muito pouco e, com o passar dos episódios, compreendemos algumas coisas.
Noé Archiviste, um vampiro bem curioso e porradeiro, é aquele que nos conecta a essa apresentação de mundo, personagens e suas histórias. Não é atoa que seu sobrenome é traduzido como arquivista, embora seu propósito inicial na narrativa seja entender a natureza do Livro de Vanitas, o seu passado e o seu desejo de ajudar humanos e vampiros acaba por criar a necessidade de conhecer o humano que o porta. É válido ressaltar que a interação entre Noé e Vanitas é um dos pontos altos da obra, e são personagens bem característicos e com suas próprias visões de mundo, criando diversos atritos mas também vínculos entre os personagens.
Quando atacam meu One Piece!!
Ainda sobre personagens, temos que citar as waifus da obra. Eu simplesmente adoro a Jeanne e a Dominique de Sade, mas do que adicionar personagens femininas, temos aqui personagens únicas, embora isso possa ser dito sobre muitos personagens da obra. As personagens são construídas em torno de contradições e os designers funcionam muito bem.
Como não amar a Dominique??????
A Dominique de Sade é uma personagem carismática, seus trejeitos são sinceros, se dividindo entre a seriedade de fazer o que é necessário e a forte presença de alguém que não se importa com a estrutura social em que vive. Sua relação com Noé é muito gostosa de acompanhar, infelizmente, o mesmo não pode ser dito da relação entre Vanitas e Jeanne.
A Jeanne é uma personagem com abertura para muitos desenvolvimentos, é apresentada como uma antiga executora, mas atualmente figura como cavaleira da nobreza vampiresca (Desculpa, tinha que adicionar o termo de alguma forma no texto), protegendo Luccius Oriflame, importante peça no cenário da política entre humanos e vampiros. Antes de entrar nesses aspectos da narrativa, tenho que citar meu descontentamento com a forma que a autora aproxima a personagem do Vanitas, e desculpa a sinceridade, mas um beijo forçado sempre será elemento a ser condenado por minha pessoa. Eu entendo que a autora queria construir a contradição de como uma personagem que viveu a vida em campos de batalha não deixava de ser uma mulher e tem seus próprios desejos, mas creio que existem formas diferentes de desenvolver isso. Os episódios posteriores dão uma amenizada, mas espero um desenvolvimento que me faça esquecer do vacilo.
Por fim, gostaria de citar que a adição das duas personagens, o Lucca Auguste Ruthven e O Conde de Sade, é muito importante para tornar mais densa a trama que envolve Vanitas no Carte. Sabemos que o vilão central é o Charlatan, aquele que tem corrompido os vampiros, mas até o momento não sabemos o que exatamente é esse ser, qual sua relação com os outros personagens e como a trama irá se desenrolar.
Lembrando que esse texto é um recorte, mas quanto mais escrevia, mas percebia as diversas subtramas que se apresentam nas sombras, com um segundo cour confirmado, espero trazer outro texto com o desenrolar dessas tramas, no belo cenário que a autora escolheu para contar essa história. Aliás, antes de finalizar o texto, gostaria de falar um pouco sobre isso.
O cenário de Vanitas tem alguns elementos centrais, reforçando a divisão entre mundo humano e mundo dos vampiros, e nos é apresentada a barreira. Embora não seja possível confirmar a explicação sobre como surgiu e os motivos por trás do seu surgimento, segundo a explicação dentro do anime, a barreira seria uma brecha espacial que surgiu através de um experimento iniciado por Paracelsus, que acreditava ser possível reescrever a realidade através do acesso ao mundo das fórmulas.
Segundo o que nos foi apresentado, os experimentos teriam criado os vampiros e a Altus Paris, realidade onde vive a maioria dos vampiros, que funcionaria como uma versão paralela da Paris humana. A contrapartida, no mundo humano, temos uma sociedade com uma vibe steampunk, que seria uma sociedade com uma tecnologia totalmente diferente do que conhecemos, baseada principalmente em energia a vapor. A explicação para o progresso dessa tecnologia em detrimento de outras seria a existência do mineral astermite, fonte de grande energia, e que teria surgido após o experimento de Paracelsus.
Curiosidade aleatória, existiu mesmo um alquimista chamado Paracelso e suas principais contribuições foram na área da medicina. A Paracelsus apresentado em Vanitas começou os experimentos com o objetivo de curar todas as doenças.
Esses dois ambientes criam um universo rico em conceitos e paisagens, e o uso de Paris foi uma ótima escolha. Abraçando toda a mística que a cidade apresenta em sua história, a animação nos conecta muito bem com esse cenário. Não importa as cores que tingem o céu, a experiência de conhecer o mundo abaixo dele é mais do que o bastante para conhecer Vanitas no Carte.
Ps: Alerta de opening de qualidade abaixo: