MB HQ’s: Ms Marvel (Marvel Teens)
A ideia de globalização nas HQs na década passada foi algo extremamente importante. Representar as minorias passou a ser uma realidade necessária, cujo foco social é a luta pela igualdade.
A Marvel, compreendendo as mudanças sociais no período e vendo os devidos sucessos a introduzir personagens como Miles Morales, deu o seu passo mais ousado e com certeza o de maior sucesso. Estamos falando da atual Ms. Marvel, Kamala Khan.
A ideia de mostrar uma filha de mulçumanos criada numa cultura diferente, que é criticada por muitos estadunidenses, foi no primeiro momento um jogada de alto risco, pois não saberia a receptividade dessa personagem. Mas Kamala se mostrou uma personagem extremamente carismática e com uma personalidade marcante, se tornando um dos pilares da Marvel atualmente e sendo querida principalmente pelos jovens.
Criado por Sana Amanat, Stephen Wacker, pela roteirista G. Willow Wilson e pelos artistas Adrian Alphona e Jamie McKelvie, Kamala apareceu na revista Capitã Marvel #14 de 2013. Quando a Marvel muda de fase em 2014 (Totalmente Nova Marvel), Kamala recebe sua primeira serialização. Seu primeiro encadernado, conhecido como Nada Normal (No Normal) venceu diversos prêmios, entre eles o prêmio Hugo de 2015 como melhor HQ e o Angoulême International Comics Festival de 2016 na mesma categoria, e foi indicado em outros, como o próprio Eisner.
A HQ que vamos analisar é um compilado das primeiras histórias da atual Ms Marvel e faz parte da coleção Marvel Teens, da editora Panini. Ela engloba os 11 primeiros volumes equivalentes aos encadernados Nada Normal e Metamorfose, ambos já lançados também pela editora.
Kamala é uma americana de origem paquistanesa, que mora com seus pais e seu irmão mais velho na cidade de Jersey. Sua família é bem fiel às tradições religiosas de seu país, o que faz Kamala ser uma pessoa reclusa e com poucos amigos. Porém, ela não aceita essa situação e sempre é repreendida, principalmente por sua mãe. Kamala é uma adolecente bem geek, ela ama os super-heróis, a ponto de escrever fanfics o tempo inteiro. Sua maior inspiração é Carol Danvers, a atual Capitã Marvel.
Querendo se enturmar, Kamala foge de sua casa para ir a uma festa de seus colegas de escola, mas acaba não se enturmando e sente que não pertence àquele lugar. Ao voltar para casa, ela é atingida por uma Névoa Terrígena, um fenômeno estranho, onde ela adquire seus poderes, e se torna uma inumana.
Kamala tem o poder de mudar de forma e aumentar/diminuir de tamanho, além de um fator de cura extremamente poderoso, mas não permite que ela utilize seus poderes enquanto se recupera, além de também conseguir acelerar seu metabolismo (ela come muito depois de usar seus poderes).
Não sabendo como usar seus poderes direito, nossa protagonista percebe que pode fazer a diferença aos poucos, e começa salvando seus colegas de classe e seu melhor amigo, Bruno (o único que sabe de seus poderes). Ao tentar salvar o irmão de Bruno, ela se depara com seu maior inimigo, o terrível (ou nem tanto) Inventor.
A jornada de Kamala Khan neste primeiro volume é uma troca de conhecimento, os costumes de uma cultura não ocidentalizada na qual Kamala está inserida, para nós leitores, e o descobrimento da maturidade, por nossa protagonista. Kamala é divertida, cheia de vida e para ela não há “tempo ruim”, se ela pode fazer a diferença, ela estará lá.
As lutas e ações existem, mas não é o foco principal do título. A roteirista G. Willow Wilson que se converteu ao islamismo jovem, escreve com propriedade as agonias e dificuldades de Kamala em se adaptar a vida ocidental, sempre lembrando dos pontos positivos que sua familia lhe ensinou. Isso é essencial para talvez o ponto mais forte dessa origem da nova Ms Marvel, o desenvolvimento do personagem.
Suas interações, como parte do descobrimento de si mesma, são leves, nada forçadas, tanto de seus poderes quanto de sua mentalidade. Ela aprende com Logan como utilizar melhor suas habilidades e com Dentinho a trabalhar melhor em equipe. Essa leveza e “boas vibrações” passada pela narrativa dessa primeira parte incentiva o leitor a se interessar mais pela personagens e por seus costumes, criando um vínculo poderoso.
A arte de Adrian Alphona principalmente tem uma “pegada” mais leve, fugindo um pouco dos traços tradicionais dos comics, que combinam muito bem com as cores de Ian Herring, com tons mais vivos, relembrando cores usadas bastante no Oriente Médio.
A edição da Panini é simplesmente maravilhosa no quesito custo/benefício, com capa cartão e papel couché. Além de ter um número considerável de páginas (256 páginas), se torna um ótimo entretenimento.
Kamala Khan é atualmente a melhor personagem da Marvel. Ela carrega com louvor um pesado fardo que é a representação de diversas minorias. Essa HQ da coleção Marvel Teens que mostra novamente sua origem é uma leitura muito agradável para quem não quer só lutas, e sim uma personagem carismática, gente como a gente e que quer fazer a diferença, mesmo que seja para algumas pessoas.