MB Review: Porque o amor existe!

No início do ano, em um evento próprio da editora, a NewPop anunciou a parceria com a revista digital Mimosa, um periódico recente focado em Boys Love, do grupo editorial Leed Publishing Co. Ltd. A parceria indicava um novo selo para a editora, o NewPop Pride, voltado para a publicação de obras com temática LGBTQIA+. Juntamente com o anúncio da parceria, foram revelados os primeiros títulos a serem publicados aqui no Brasil. Para ser mais preciso, foram 7 títulos de uma vez, todos programados para saírem até o final do primeiro semestre de 2021.

O tempo passou, o prazo da editora não foi cumprido, e chegaram recentemente às bancas todos os títulos de uma vez! Mas, antes de começar essa review, vale a pena mostrar uma coisa. A editora criou um infográfico com o nível de picância de cada uma de suas obras, da mais leve até a mais erótica. E pensando nisso já devo alertar: A obra de hoje está na área mais picante e só não é 100% explícito devido a censura que apelidei carinhosamente de “sabre de luz”.

Sinopse Oficial

Touma é o filho herdeiro do clã yakuza Hyuuga. Um rapaz mulherengo, bom de briga, mas que falha em suas responsabilidades. Um dia, a chefia manda um guarda-costas para ele: Aya, do clã filiado Tsukishima, um membro da máfia exemplar e que logo de cara declarou sua lealdade ao jovem mestre, dizendo que o protegeria a qualquer custo. Essas palavras trouxeram muita alegria para Touma, que até então era subestimado pelo clã. E Aya logo tem sua chance de provar suas intenções, quando uma garota suspeita tenta se aproveitar de Touma em um cabaré. Ele logo age para interferir, usando um vestidinho curto…?!

Sobre a História

A história é um misto de comédia com romance, mas infelizmente não chega a abordar bem nem um nem o outro. Não que isso torne o mangá ruim, de forma alguma, mas ao finalizar você sente aquele gostinho de “Uns dois volumes a mais fariam esse mangá ser ótimo, agora ele é só bom.”

Touma inicia sua jornada como um herdeiro irresponsável e bem ofensivo e, ao conhecer Aya, vai se desenrolando uma história em que o protagonista percebe que precisa mudar de postura ao ver que pode correr perigo caso se mantenha daquela forma. Porém, todo esse desenvolvimento é feito de forma tão abrupta e corrida que nem conseguimos acompanhar exatamente suas nuances de pensamento e seu crescimento. O fato de que um mangá com cenas eróticas explícitas só reforça a ideia de que isso tudo é “apenas um pano de fundo para ver a pu*****”, o que não chamaria tanto a atenção se não fosse por um ponto que abordarei mais adiante.

Aya acaba roubando a cena, sendo aquele personagem que é bom em tudo o que se propõe. Seja lutar, cozinhar, servir de guarda-costas, seduzir e transar. E o fato de ter um personagem queer sendo posto como o “fodão” chama muita atenção positivamente e é o ponto alto da história para mim. Embora, infelizmente, seja pela tradução ou pela edição original, não dá para tirar uma conclusão sobre sua identidade de gênero, se Aya é um personagem trans, travesti ou apenas um homem cis gay afeminado que gosta de vestir roupas femininas, confusão essa que é ainda mais influenciada pelo idioma, visto que existem termos em japonês que se referem a todas as possibilidades acima citadas.

Vamos à Polêmica?

Recentemente no Twitter estourou uma polêmica envolvendo um dos BLs da Mimosa e sua péssima revisão de texto. Apesar de não estar se referindo a esta edição, a discussão se ramificou e alguns comentários se mostraram bastante incomodados com o fato de que Touma, por ser alguém inconveniente e ofensivo a comunidade LGBTQIA+, se refere diversas vezes a Aya com termos transfóbicos, sendo o que mais chamou a atenção, “Travecão”.

Apesar de questões como uma possível tradução errada terem sido levantadas, foi visto que no original também se utilizam de palavras ofensivas nas cenas em questão, sendo assim, a questão problemática não é referente ao trabalho da editora, mas sim ao próprio original.

Um exemplo é a frase “Shikamo Okama no”, sendo Okama um termo utilizado principalmente, mas não só, de forma preconceituosa para pessoas gays, trans ou crossdressers. A frase que significa algo como “Além disso, ele é okama” (escolhi não traduzir okama justamente pela vasta gama de possibilidades), e ficou aqui como “Além do mais, traveco”. Eu, particularmente, acredito que poderia usar algum outro termo, mas com isso entramos em uma questão mais subjetiva, então não cabe aqui.

Isso acaba levando a uma outra discussão sobre a curadoria da editora. Embora não tenha sido um erro se comparado ao original, algumas pessoas se perguntaram qual a necessidade de trazer uma obra dessas num selo voltado a quadrinhos LGBTQIA+ que já estão tendo uma pequena fatia do mercado. Outras defenderam que este tipo de obra deve ser trazida sim, para mostrar que não são apenas flores no Vale e que como a ideia era um discurso “hetero top” dentro do contexto.

Aproveitando esta discussão levantada, deixo aqui minha opinião pessoal, de que a problemática em colocar este termo e este discurso no personagem não se dá pelas palavras usadas por ele, mas sim pela gratuidade dele além da falta de desenvolvimento do personagem, como comentei anteriormente. Pareceu-me uma palavra usada a esmo, como se o autor dissesse “olha como ele é errado, tá até chamando o outro de traveco” e ficasse apenas por isso mesmo. O desenvolvimento do personagem não ocorre de forma natural e pode ser interpretado apenas como uma questão de objeto sexual, visto que a fascinação de Touma sempre está apenas nas pernas de Aya. Inclusive, em boa parte das cenas nas quais Touma verdadeiramente se encanta e fantasia com seu guarda-costas, nem mesmo o gênero de Aya é mostrado focando apenas em suas pernas. Isso pode incomodar os leitores, além do momento em que mostra o porquê Aya é tão fissurado em Touma, que, ao meu ver, acaba sendo mais uma cena com um quê de objetificação, mas passada através de uma ótica que soa romântica.

E a Picâ…ncia? Como está?

Algumas pessoas podem acabar indo ler um mangá desse para ver as cenas sexuais apenas e não se importam com a história. Não as julgo de forma alguma, cada pessoa sabe de suas preferências e todas as que não estejam relacionadas a discursos de ódio são sempre válidas. Por isso, vale a pena uma seção da review apenas para falar sobre as partes picantes, visto que esse é o mangá com a maior classificação da escala feita pela editora. E tudo o que eu tenho a dizer é que faz jus total à escalação.

No decorrer da obra temos pelo menos umas três cenas sexuais bastante intensas, desde masturbação até o ato sexual completo, sendo este realizado umas duas vezes. São cenas bem feitas e bastante excitantes e diria até que este é um dos melhores pontos da história. Inclusive, não é exagero falar que durante o sexo, Touma se desenvolve muito enquanto pessoa.

Edição Nacional

Caminhando agora para falar da edição nacional. A editora NewPop seguiu o padrão de 12,8×18,2 cm, tendo 184 páginas em um papel offset 90g e com uma sobrecapa. Devo começar falando que eu detestei algumas questões da capa, principalmente no que tange a legibilidade do título. O tom escolhido para a parte “Porque o” não tem contraste nenhum com as demais cores, dificultando a leitura. Mas, além disso, os personagens estarem ambos na frente do restante do título faz com que lê-lo seja uma árdua tarefa, já que fica visível apenas o “Amor E” e uma exclamação no final. Apesar do título estar bem escrito na lombada, vale a pena ressaltar essa tamanha falta de legibilidade na capa, afinal, seria equivalente caso houvesse algum erro na capa e que fosse consertado na lombada.

Os desgastes que tenho para com a sobrecapa acabam ao tirá-la. A capa principal contém um quadrinho extra, algo que nunca tinha visto antes em mangás. Ao tirar a sobrecapa, temos uma história de uma página mostrando a vida de Aya e, no verso, a vida de Touma, enquanto crianças, o que complementa a história de forma interessante.

Indo agora para a preparação e revisão de texto, exceto pela tradução já comentada na parte da polêmica citada acima, vi alguns erros de português e vírgulas fora do lugar. O papel não tem transparência e a encadernação é confortável de se ler.

Conclusão

Porque o Amor Existe! é uma história divertida de se ler, caso você queira algo mais simples e voltado principalmente ao erotismo. Se quer ver a obra como um todo, vai acabar sentindo uma falta de um maior desenvolvimento, coisa que um ou dois volumes a mais certamente arrumariam. Apesar das polêmicas envolvendo a tradução, esta se mantém bem próxima ao original, porém, não deixa de ser um gatilho para algumas pessoas, portanto se sua intenção for ler algo despretensiosamente, fica o aviso de termos transfóbicos na leitura.

Agradecimentos a loja Anime Hunter por nos ter cedido o mangá para review. Caso queiram adquirir o mangá: https://shp.ee/hp7vekb

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