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MB Review: Silver Spoon #1 e #2

Sempre que perguntamos qual o melhor mangá shonen que existe, há uma larga possibilidade da resposta ser Fullmetal Alchemist. A obra prima de Hiromu Arakawa tem qualidades gigantescas e merece uma análise completa explicando porque é tão aclamada. Essa fama catapultou o nome da autora a um outro nível, fazendo que sempre esperemos bastante dos próximos trabalhos dela. E então, em 2011, a autora começou um novo mangá com uma temática… peculiar, para dizer o mínimo. Inspirado em vivências da própria autora, que foi criada em uma fazenda, Silver Spoon conta com uma ambientação extremamente rural e se utiliza disso para nos passar maravilhosas mensagens.

Sinopse Oficial

A história acompanha a vida de Yugo, um garoto que decide estudar em uma escola agrícola no interior, imaginando que esse seria um meio mais fácil de se formar e, posteriormente, entrar em uma faculdade – e também para se distanciar de sua família. Assim que as aulas começam, Yugo descobre que a realidade não era bem o que ele pensava. Sem contar que ele ainda precisa lidar com relações familiares conturbadas e com suas próprias decisões sobre o que fazer no futuro.

Trama

Como dito, a história se passa durante a vida escolar do nosso protagonista, Yugo Hachiken, que decide ir para uma escola interiorana para realizar seu ensino médio. Sua decisão, logo no início, já mostra o contraste com os demais colegas de sala, a grande maioria filhos de fazendeiros ou de proprietários de algum tipo de negócio rural, enquanto Yugo é um garoto da cidade, que não faz ideia de como é essa vida.

Seu preconceito com “a vida fácil” do campo fica aparente principalmente quando vê que muitos de seus colegas de classe não têm um domínio dos saberes mais acadêmicos, como a matemática, por exemplo. Mas a autora já consegue quebrar essa sensação de indiscernimento literalmente um quadro depois, com muito humor.

E é justamente essa a mensagem que mais fica evidente conforme se lê os dois primeiros volumes do mangá, o fato de que, em algumas coisas da vida, não há um “sucesso absoluto” e o restante fora aquilo está errado.

Quando estamos na escola, é fácil saber “quem é o melhor”. É a pessoa que tirou as melhores notas. Mas, quanto mais envelhecemos, mais essa noção se perde conforme as diversas possibilidades. Se a pessoa A tirou 8 e a B tirou 7, há um “vencedor”. Mas se a pessoa A está casada com uma família feliz e a pessoa B acabou de comprar seu carro próprio, quem está melhor? Qual o critério para verificar isso? E, em minha leitura, percebi que Silver Spoon entra bastante nessa questão de debate sobre possibilidades.

O que assola nosso protagonista constantemente é sua falta de perspectiva de futuro. Yugo não sabe o que quer, apenas que quer se tornar o melhor da sala, mas nem o porquê disso ele consegue entender, e mesmo assim segue com tal desejo. Fora isso, Yugo também não sabe qual carreira pretende seguir nem sequer qual área rural pretende focar seus estudos. Por isso, acaba sendo uma pessoa um tanto quanto facilmente levada pelo impulso, fator esse que ainda é amplificado pela sua incapacidade de dizer não. 

Mas, seria essa falta de “um sonho” um problema? Talvez. Mas talvez possa não ser também. Tudo isso, assim como diversas coisas na vida, é um grande caso de “depende”.

Apesar do debate, se engana aquele que acha que vai encontrar nas páginas de Silver Spoon uma questão filosófica tão abrangente quanto a de Fullmetal. Este início, pelo menos, demonstra ter uma outra proposta, bastante diferente, mesmo levantando essas questões para debate.

O mangá tem bastante foco na comédia, dando atenção principalmente à inabilidade de Yugo em fazer coisas simples da fazenda ou até mesmo de entender coisas simples rurais, como o fato de que a galinha bota ovo por trás. 

Além disso, também aborda cuidados reais pecuários como criação de cavalos, porcos, vacas e galinhas, mostrando as diferenças entre as produções em massas de alimentos em comparação a uma fazenda pequena voltada à subsistência, e assim entrando novamente no debate comentado sobre não haver necessariamente um certo, mas sim, um contexto e fatores para determinar uma ação, e nenhuma é melhor do que a outra per se.

Vale um aviso que, se você for mais sensível referente a animais, pode não ser uma boa dar uma lida nesse mangá. Não há crueldade nas páginas, mas também não poupam de explicar sobre uma visão de que animais, para alguns cuidadores, são descartáveis e devem ir para o abate, inclusive, com cenas mostrando um destrinchamento.

Arte

A arte de Hiromu Arakawa é bastante reconhecível, seja para o bem ou para o mal. Seus personagens sempre se assemelham bastante entre si, vide Arslan de A Heróica Lenda de Arslan e Edward, de Fullmetal Alchemist. Em Silver Spoon, não é diferente.

Apesar do protagonista ter uma identidade visual própria, alguns dos personagens são bastantes semelhantes a outros de Fullmetal, mas depois de um tempo lendo, é algo que passa despercebido por conta do costume.

As páginas duplas são estonteantes! Mas o que mais chama a atenção é uma outra coisa na verdade. Existe um ditado entre os desenhistas que diz que “se a pessoa sabe desenhar cavalos, ela consegue fazer qualquer coisa”. E que cavalos lindos que a Hiromu faz! Não só eles, mas toda a ambientação rural escolar, principalmente os animais.

Edição Nacional

Falando agora da edição nacional, o mangá tem o tamanho de 13,2 x 20 cm, com papel pólen, com a média padrão dos tankos de 192 páginas, ao preço de R$29,90. E preciso comentar como eu, particularmente, detesto o fato de terem colocado “Gin no Saji”, o título original, logo abaixo do título em inglês e explicarei rapidamente o porquê.

Quando pensamos no título, caso não haja entraves com a editora e possamos escolher livremente, devemos sempre pensar na função, tanto de vender quanto de transmitir ao leitor uma determinada sensação. Enquanto “Silver Spoon” é o nome em inglês no qual ele é comercializado, “Gin no Saji” é apenas o nome original e não acrescenta em nada o entendimento da obra para quem olha, o que não é a mesma coisa de se colocar, por exemplo, um “Colher de Prata” como subtítulo, o que faz com que o leitor entenda um pouco mais e agregue valor a isso. Como falei, cria-se algo por conta de uma função. Gin no Saji não teve função em estar lá.

Descontentamento com título de lado, devo falar que a JBC fez um trabalho muito bom nesses volumes. O mangá é repleto de referências históricas e culturais japonesas e a editora fez questão de colocar diversas Notas de Editor explicando para que pudéssemos entender melhor a história, com complementos que só melhoraram a experiência de leitura.

Dito isso, acredito que faltou umas duas ou três notas com outras explicações, como no momento em que aparece algum valor em iene e poderia ter sido convertido em real para entendermos melhor, ou em momentos que comenta sobre hectares. São locais que poderiam ter as devidas informações de conversão.

Referente a erros de ortografia, encontrei um que acabou me desligando um pouco da leitura em uma frase em que “quanta” está escrito quando o correto deveria ser “quando”. Fora isso, vi que umas três páginas da minha edição vieram mais claras que o normal das outras, mas pode ter sido um erro unitário.

Conclusão

Silver Spoon é uma comédia leve e gostosa de se ver, mostrando uma vida na fazenda bem real enquanto discute o “viver de verdade”, pensando menos na eficiência e mais na humanidade; o valor de conhecimentos e culturas diferentes; e o problema que a auto abnegação pode causar. E tem um porco chamado Tigelinha.

Agradecimentos a Editora JBC pelos volumes cedidos. Caso queiram adquirir as edições na Amazon.

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