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MB Especial: The Ghost in the Shell

O Japão já contribuiu muito para o universo das obras cyberpunk, não apenas nos mangás, mas levando essa influência para séries, jogos, filmes e livros que não se limitam somente ao Japão. Uma das grandes referências do gênero é, sem dúvidas, “Akira”, de Katsuhiro Otomo, e dividindo a posição de prestígio com a obra, temos “Ghost in The Shell”, de Masamune Shirow, que foi influenciado, inclusive, pelo próprio Akira e por filmes como “Blade Runner”. O autor já era relativamente conhecido no Japão por conta de sua série “Appleseed”, “Dominion” e “Black Magic”. Apesar de Ghost in the Shell ter se originado no mangá, ficou mais conhecido por conta do excelente longa animado dirigido por Mamoru Oshii e lançado em 1995. Além dos filmes, a obra rendeu sequências em quadrinhos, animes, spin offs, jogos e até um filme em live action estrelado pela atriz Scarlett Johansson.

Em 2016, a editora JBC publicou o mangá que deu origem à toda franquia, bem como as sequências dele e hoje, iremos falar um pouco sobre as publicações que GiTS recebeu no Brasil, focando, principalmente, nos quadrinhos. 

The Ghost in The Shell 

Publicado originalmente na revista Young Magazine da editora Kodansha entre março de 1989 e setembro de 1991, os capítulos foram compilados em um único volume, que serviu de base para o já citado filme. 

“O cenário escolhido por Shirow Masamune  para The Ghost in the Shell foi o futuro distópico de 2029, onde a alta tecnologia se mistura a uma sociedade decadente e desigual.

É nesse mundo à beira do colapso que a Major Motoko Kusanagi encabeça a Seção 9 da Segurança Pública japonesa. Motoko é uma ciborgue altamente treinada incumbida de desmantelar uma série de crimes cibernéticos realizados por um hacker conhecido como o Mestre dos Fantoches. Em meio à caça ao criminoso virtual, Shirow Masamune insere na trama questionamentos existencialistas, ponderando até mesmo se alguém provido meramente de Inteligência Artificial é, de fato, um ser vivo. E foi exatamente essa mistura de ficção científica, ação e temas filosóficos que fizeram do mangá The Ghost in the Shell uma leitura obrigatória.”

O mangá segue uma estrutura um pouco episódica, em cada capítulo, vemos a Major e sua equipe cumprindo missões, ao mesmo tempo em que desenvolve toda a situação com o Mestre dos Fantoches. A obra possui um traço um pouco diferente do que vimos no longa, sendo mais estilizado, mas igualmente detalhado. O que nem de longe é um ponto negativo, ao menos para mim, já que eu acho muito interessante ver as diferenças entre o quadrinho e o filme. As cenas de ação podem ser um pouco confusas às vezes, mas são bem elaboradas. As mudanças não param por aí. A obra original também possui muito mais elementos de humor, que apesar de bobinhos acabam funcionando. Eu mesmo ri de uma cena envolvendo um ciborgue num corpo um tanto…inútil. Mesmo assim, vemos questionamentos filosóficos, não apenas em relação à protagonista, Mokoto, mas aos ciborgues em geral. Questionamentos do tipo: os ciborgues possuem identidade? O que é essa identidade e como ela é formada? Os ciborgues devem conviver pacificamente com os humanos ou se rebelar contra eles? Quais seriam as consequências caso se rebelassem? Essas são questões abordadas na história de forma muito inteligente. Hoje em dia, já estamos “cansados” de ver tais questões sendo abordadas em obras de ficção científica, especialmente em jogos como “Detroit: Become Human”, mas The Ghost in the Shell foi escrito há mais de 30 anos. 

O mangá possui um ponto negativo, mas que também pode ser um ponto positivo. É uma faca de dois gumes que inclusive divide bastante o público leitor. Existe um grande volume de textos no quadrinho, o que deixa a leitura um pouco mais carregada e o ritmo de leitura consideravelmente mais lento, o que é até normal, dada a natureza dos assuntos tratados. Na edição lançada pela JBC, ainda existem várias notas de rodapé gigantes (várias mesmo). Algumas explicando o conceito de alguns termos científicos e de robótica, e outras foram escritas pelo próprio autor, descrevendo algumas cenas em específico e fazendo observações, e em alguns casos, até correções sobre elas. Eu recomendo que você leia a obra ignorando as notas em uma primeira ocasião, parando para ler apenas sobre os conceitos que são essenciais para a história. Após terminada a leitura, aí sim, recomendo ler as notas. Os personagens também são bem legais, como a própria Mokoto e o Batou, que é provavelmente o meu personagem preferido do mangá.

Como eu disse, é uma história que divide o público por conta de seu ritmo, mas se você gosta de obras de ficção científica de um modo geral, eu recomendo bastante.

A edição da JBC possui formato 17×24 cm, miolo em papel Lux Cream, sobrecapa, e mais de 50 páginas coloridas. Sendo que todas as outras publicações de GiTS impressas no Brasil seguem o mesmo padrão, diferindo apenas na quantidade de páginas coloridas e de páginas preto e branco. O preço de capa de todas as publicações é de R$ 64,90.

The Ghost in the Shell 1.5: Human Error Processer

Apesar de ter sido lançado no Brasil após o GiTS 2.0, Human Error Processer se passa entre os volumes 1.0 e 2.0, como a própria numeração sugere. No Japão, o mangá também foi publicado na revista Young Magazine, tendo apenas 7 capítulos que foram publicados entre 1991 e 1996 e renderam um volume. Por aqui, a edição foi publicada em dezembro de 2019.

“Motoko e os agentes da Seção 9 encaram novas missões e novos inimigos em The Ghost in the Shell 1.5: Human-Error Processer, continuação direta do clássico mangá de Shirow Masamune. Situado dez anos depois da história original, a ex-Major trabalha como especialista em segurança ao mesmo tempo que seus ex-colegas da Seção 9 seguem em investigações secretas para manter inteligências artificiais, hackers e androides assassinos sob vigilância.”

Neste volume, temos um foco bem maior na Seção 9 como um todo do que na Major Mokoto propriamente dita, especialmente nos personagens Batou e Togusa (só de ter muita participação do Batou, já é um ponto positivo para mim). A estrutura do mangá é bem similar ao do primeiro da série, com histórias episódicas, mas dessa vez, não há um pano de fundo relevante como ocorreu com o Mestre dos Fantoches. A histórias geralmente acompanham os membros do grupo solucionando alguns crimes, regados à muita tecnologia e algumas cenas de batalha bem interessantes e explosivas. É perceptível, que o autor “reaproveitou” algumas cenas do filme, que havia sido lançado alguns meses antes da conclusão do mangá. Mas ao menos para mim, isso não interferiu na leitura, estou citando isso no texto apenas a título de curiosidade. Os traços continuam excelentes, é possível até mesmo notar uma evolução em comparação com o título anterior. 

GiTS 1.5, não é tão grandioso quanto o primeiro, mas caso você tenha gostado do que já havia lido no mangá original, eu recomendo o 1.5, já que ele serve como uma boa “sobrevida” para a primeira história. 

The Ghost in the Shell 2.0: Manmachine Interface

Publicado no Brasil em dezembro de 2017, Manmachine Interface foi serializado na mesma revista que os mangás citados anteriormente, entre 1991 e 1997 (a ordem de publicação do Shirow foi uma bagunça, aparentemente). E assim como os anteriores, possui apenas um volume. 

“Ghost in the Shell 2 acompanha a misteriosa Motoko Aramaki enquanto ela conduz uma investigação sobre um incidente em uma fábrica de órgãos e suas consequências. Ela está fugindo para limpar a bagunça e se salvar no processo. Enquanto isso, os ex-membros da seção 9 investigam Motoko para descobrir quem ela realmente é.”

Desta vez, acompanhamos a Major Mokoto, que passa a maior parte do tempo no ciberespaço, controlando de lá, vários ciborgues no mundo real. O problema da vez é um grupo que vem trabalhando na criação de órgãos humanos dentro de porcos, para depois serem vendidos/traficados. E sinceramente, neste segundo volume , as coisas interessantes acabam por aí. Apesar de algumas cenas de batalha interessantes, como nos volumes anteriores, o roteiro é arrastado e confuso. Não me agradou o fato de boa parte da história se passar em um ambiente digital. Eu até não reclamaria se houvesse partes assim, mas acho que ficou além da conta, pelo menos na minha visão, pois eu queria ver mais do mundo real e distópico.  

A arte de um modo geral continua ótima, principalmente nas cenas que se passam fora do mundo virtual. Mas preciso destacar que o autor aplicou alguns recursos visuais que muito provavelmente foram inseridos digitalmente, essas partes, eu não gostei muito. Já a quantidade de fanservice foi algo que me incomodou. Sinceramente, na maioria das vezes eu fico indiferente em relação às cenas de ecchi na maioria dos outros títulos que leio e que possuem esse elemento. Mas aqui, o autor desenha diversas cenas em ângulos sugestivos que não possuem conexão nenhuma com a proposta do mangá, são cenas desnecessárias, no sentido mais verdadeiro da palavra. Somando esse fator com o roteiro já bem fraco, isso acaba puxando ainda mais a média da publicação para baixo.

A edição segue os mesmos moldes das outras, a diferença é que esse é o volume com a maior quantidade de páginas coloridas de toda a série. Eu não sei exatamente quantas páginas coloridas estão presentes na publicação, mas digo facilmente que pelo menos 50% do livro é colorido. A colorização é muito legal também.

Dos três mangás, Manmachine Interface é sem dúvidas, o mais fraco de todos. Apesar dos pontos legais, acho que ele só vale a pena caso você já tenha o 1.0 e o 1.5. Mesmo assim, recomendo fortemente comprar com um bom desconto.

The Ghost in the Shell: Perfect Book

Lançado em abril de 2017, “The Ghost In The Shell – Perfect Book” não é um mangá, e sim uma espécie de databook sobre o universo de GiTS. Incluindo os filmes animados, mangás, séries de anime, e até mesmo sobre o filme live action que estreou naquele ano. Além de detalhes dos bastidores das produções envolvendo a franquia.

Ghost in the Shell Perfect Book é o guia definitivo sobre as animações e o filme baseados no mangá de sucesso mundial. Conheça em detalhes todas as animações já feitas de The Ghost in the Shell, passando pelas tramas, detalhes de armamentos e robôs, bastidores e muito mais. Mergulhe ainda mais fundo no universo criado pelo cultuado mangaká Shirow Masamune e descubra porque  The Ghost in the Shell está mais atual do que nunca e continua encantando leitores e espectadores do mundo inteiro.”

O livro possui cerca de 160 páginas totalmente coloridas em papel couché, sobrecapa e formato 21 x 29,7 cm. O preço de capa é de R$79,00. 

The Ghost in the Shell: The Human Algorithm

Esse é um caso interessante, já que o mangá é publicado no Brasil apenas no formato digital, e em simulpub  pela editora JBC. No Japão, o mangá é publicado desde setembro de 2019 na revista Comic Days, também da editora Kodansha. Apesar de ser baseado na obra de Masamune Shirow, os desenhos são de Yuuki Yoshitomo e o roteiro é de Junichi Fujisaku. Até o momento, a obra conta com dois volumes publicados.

“Novas histórias, novos mistérios. The Ghost in The Shell – The Human Algorithm chega com mais histórias da Seção 9 e uma investigação sobre o que poderia ter acontecido com “aquela pessoa”. No lixão a céu aberto, não era qualquer corpo cibernético que estava abandonado, mas, sim, de um antigo membro da Seção 9. Mergulhe nessa nova aventura baseada no universo de Shirow Masamune com a gente!”

Nunca li o The Human Algorithm, mas pelo que vi, parece bem legal, com bastante cenas de ação e, como este especial cobre tudo que foi publicado da franquia, vale a pena a menção. Gostei muito dos traços também. Mas como não sou muito adepto do formato digital, fico na torcida para que a editora publique esses mangás no formato físico no futuro. De um modo geral, se você é um fã de ficção científica, acho que vale a pena dar uma olhada nos mangás citados. Agora, ressalto, espere para comprar o 2.0 quando estiver com um desconto bem chamativo.

Bom, chegamos ao fim deste especial. Tentar ser sucinto ao mesmo tempo em que falava dos principais pontos das obras citadas. Espero que vocês tenham gostado, e também espero que o texto possa ter te ajudado a decidir se você coloca, ou não, a obra na sua coleção, caso ainda não a possua. Nos vemos em breve!

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