MB Review: Uma Vida Imortal vol. 3
O Budismo, uma das filosofias mais importantes do mundo, tem em sua base as chamadas Quatro Nobres Verdades. A primeira delas diz que viver intrinsecamente está ligado a insatisfação (Focado na didática, estou simplificando bastante. Peço perdão se deturpei de alguma forma). Nós, enquanto seres humanos, estamos sempre em busca de algo novo e isso é uma coisa boa. Ao pararmos de buscar um auto-aperfeiçoamento, não nos sobra muito para fazer além de sofrer enquanto proletariado nas mãos de uma empresa.
E Uma Vida Imortal continua nessa jornada de expansão do auto-aperfeiçoamento, seja de forma abstrata ou concreta. Acredito que o que vamos falar hoje será bem mais curto do que os outros, devido a baixa quantidade de acontecimentos que houveram nesse volume, mas, recomendo que veja a resenha que fizemos da parte 1 e 2 antes de vir para cá.
A seguir, spoilers dos volumes anteriores.
Contextualizando
Após se separar da tribo Yanomi e ir aprendendo a conversar questões básicas graças a Pioran, Fushi agora se encontra em um outro local onde acaba conhecendo diversas outras pessoas, tentando dar seus primeiros passos para a socialização.
Sobre o Volume
Acredito que a coisa que mais me chamou a atenção nesse volume é como Fushi ficou de escanteio nele, e isso é uma coisa ótima! Para mim, o verdadeiro protagonista de todo o volume foi Gugu, o personagem novo que nos é apresentado logo no início deste mangá, e que já se transformou em um dos meus personagens favoritos.
Criado na base da pobreza e desfigurado devido a um acidente, Gugu se enxerga como um pária da sociedade. Este tema já havia sido trabalhado com Marsh, mas aqui a diferença está na questão do personagem consigo mesmo. Não apenas ele é considerado um monstro para as outras pessoas, ele também se vê desta forma. E justamente por se ver como um monstro que enxerga em Fushi uma conexão mais intensa do que sentiu com outras pessoas. A ligação de dois monstros, de dois marginais. Apenas Fushi poderia entender o que Gugu sente perante a sociedade.
Mas a relação não é unilateral. Fushi, ao poucos, vem se mostrando que está aprendendo a ser empático com pessoas e crescendo enquanto ser humano, mesmo que não seja de fato um. Além de sua comunicação, Fushi começa a se preocupar em questões menos abstratas e mais práticas, como aprender a cozinhar e tomar banho. Inclusive, um dos questionamentos mais lindos para mim foi justamente quando Fushi pergunta a Gugu o que significa “ser feio”. Ali, a inocencia do protagonista transborda e mostra como a beleza é apenas um padrão estético gerado através de pré-conceitos culturais. Gugu, com todos os seus traumas e com seu rosto da forma que é, lhe responde que “é quando você vê um rosto que dá vontade de gargalhar da cara dele” o que demonstra toda a questão do preconceito que existe em cima de padrões de beleza.
Além disso, em um momento mais para frente, Gugu é confrontado com outra realidade, uma a qual sempre sonhou e não consegue conceber como a pessoa dentro desta realidade pode não estar satisfeita. A desavença continua, mostrando que realmente não há uma realidade ideal, mas sim aquela a qual você precisa se adaptar. E, quando se trata de adaptação, acredito que o poder de Fushi não poderia ser melhor.
E, falando no poder dele, um outro momento muito interessante na trama está quando Gugu lhe diz que “o que você sente dor, você assimila a ti”, falando sobre as transformações de Fushi. Isso me lembra a famosa frase atribuída ao psiquiatra Carl Jung “O que negas te subordina. O que aceitas te transforma”. Aparentemente, Fushi não só entende as dores de perder pessoas que lhe era importante como aceita essas dores como parte das transformações.
Mas, se engana aquele que acredita que este volume foi apenas voltado a drama interpessoais. Questões relacionadas ao volume passado aqui são expandidas e trabalhadas e as cenas de ação estão no mesmo nível e até melhores do que as anteriores.
Versão Brasileira: Herber…NewPOP
Como este volume segue o padrão dos demais, não tenho muito o que comentar sobre ele. Se, por um lado a editora tem conseguido manter uma periodicidade quase regular de dois meses, assim como prometido, o que é um ótimo fator para a empresa e uma das maiores críticas a editora, por outro, ainda há alguns erros de revisões constantes que, embora não atrapalhem a leitura como um todo, continuam tornando o fato da baixa revisão ser o padrão e não o caso isolado.
Conclusão
Uma Vida Imortal 3 continua o excelente trabalho do volume 2 expandindo seu universo e mostrando Fushi aprendendo, enquanto mostra as diversas facetas a que um ser humano pode se submeter, para que fiquemos com aquela sensação de que talvez não seja tão bom assim para Fushi se tornar verdadeiramente um humano.
Agradecimentos a loja Anime Hunter pelo volume cedido.