MB Animações: Komi Can’t Communicate

A comunicação é a ferramenta essencial para que qualquer pessoa consiga iniciar um contato direto com outras, algo que possibilita também a construção de vínculos entre desconhecidos. Porém, mesmo com o acesso a alfabetização, não é incomum a existência de pessoas que possuem problemas de comunicação, sendo esta dificuldade, em muitos casos, resultado circunstancial por meio de uma ansiedade ou fobia social.

Mas aqui deve ser destacado algo que a própria animação de Komi-san faz questão de estabelecer em todos os seus episódios: Pessoas com problemas de comunicação, também desejam desenvolver relações sociais com outras pessoas. 

Komi-san wa Komyushou Desu, ou “Komi-san tem problemas de comunicação” (Komi Can’t Communicate), é um mangá escrito e ilustrado por Tomohito Oda e é publicado regularmente desde maio de 2016 pela revista Weekly Shōnen Sunday. O mangá recebeu uma adaptação em anime produzida pelo estúdio de animação OLM (Odd Taxi) com a direção principal a cargo de Ayumu Watanabe. A série foi exibida em 2021 durante a temporada de anime no outono japonês, do dia 07 de outubro até 23 de dezembro na TV Tokyo, além de sua exibição semi-simultânea na Netflix. 

O site oficial da animação anunciou uma segunda temporada, com previsão de estreia em abril de 2022.

P.S: Aviso de spoilers. Mas se estiver a vontade de ler, se sinta bem vindo(a).

Um resumo sobre a história

Komi-san wa Komyushou Desu se centraliza em Shouko Komi, uma garota que ingressa no ensino médio e que, logo em seu primeiro dia, chama a atenção imediata de toda a escola por conta de sua chamativa beleza. O que todos não conseguem perceber, é que Komi possui extremas dificuldades de comunicação. A primeira pessoa que acaba descobrindo isso é Hitohito Tadano, um garoto comum que se define como alguém que gosta de observar o ambiente e que evita chamar tanta atenção. 

Tadano acaba ficando sozinho com Komi-san na sala, e por ter observado antes as suas reações, a questiona sobre uma possível dificuldade de falar com as pessoas. Escrevendo no quadro da sala, ela responde que ninguém desde o fundamental havia percebido o seu problema, logo em seguida desabafando as suas frustrações por não conseguir falar com os outros. Tadano decide então ajudá-la, tornando-se o primeiro amigo de Komi-san e assumindo a tarefa de ajudar ela a realizar seu sonho, que é conseguir se comunicar e fazer 100 amigos. 

Komi-san é enxergada como perfeita

Logo no primeiro episódio de Komi-san, nos chama bastante atenção o fato de existir uma exaltação constante e precoce dos colegas sobre a protagonista. Certamente devido a sua aparência, mas sendo algo que acontece mesmo que ela nunca tivesse dirigido qualquer palavra aos colegas. É cômico até, afinal, a obra possui a comédia como suporte principal para os temas que estão expostos na obra. Mas essa enorme valorização da Komi-san nos faz pensar em como dificilmente é enxergado a real camada de problemas pessoais da personagem, enquanto existe um desejo de idealização por parte dos outros, a vendo como perfeita.

É uma suposição. Não dá para confirmar se realmente faz parte de algo intencional do autor, mas só pela obra discutir temas relacionados a problemas de não comunicação, fica essa impressão de que seja  isso, tanto para inserir a relevância de uma função ao Tadano, como peça essencial de apoio ao desenvolver da protagonista, como para trazer profundidade sobre as situações que pessoas com esse tipo de dificuldade acaba passando. É evidente que nenhum dos colegas, além do Tadano, perceberam a dificuldade de Komi-san nesse início. Na cena da primeira conversa dela com o garoto, ela escreve no quadro sobre isso, e ainda durante a cena, o tom cômico que antes estava presente na animação, flui facilmente para um dramático, quando a personagem começa a desabafar desesperada e frustrada por não conseguir falar. Um impacto emocionante, evidenciando o sério problema que Komi-san enfrenta.

A situação realmente parece ser comum, mas aqui percebemos a possível maestria da narrativa (e da direção da produção também) em esmiuçar bem como a ideia idealizada “Komi-san é perfeita” impede a possibilidade de humanização dela e o enxergar de “imperfeições”, sendo a mais marcante o próprio problema que está afetando a vida pessoal da colega de classe. Não que a história pareça apresentar isso, o fato deles não terem enxergado a dificuldade dela, a fim de responsabilizar os colegas. Existe a sensação de que acontece isso apenas para expor o quanto a interpretação errada sobre os outros pode ser tão comum na percepção de qualquer pessoa, inclusive nos dois lados (Komi-san achando que as pessoas a odiavam).

Pessoas são muito diferentes e os contatos podem ser complexos. Até mesmo alguém que é excelente em se comunicar, encontra barreiras na interpretação ou compreensão sobre o outro.

O próprio Tadano, o primeiro colega a compreender e se predispor a ajudar Komi-san, apenas compreendeu a realidade da personagem, enquanto ela escrevia. No primeiro contato dos dois, ele achava que tinha sido ignorado ao dizer “Bom dia” para ela, mas logo iríamos saber que Komi-san apenas não conseguia ou não sabia o que responder. Enfim, apenas pressupondo pra finalizar esse ponto, é como se o autor abordasse todas essas nuances, para aprofundar mais em como “não é tão simples” no que relaciona a ansiedade social, trazendo dentro de sua obra, uma possível reflexão de como enxergar pessoas com esse tipo de problema, sem mistificar ou idealizar as suas reações. Mesmo a parte cômica estando ali, é interessante perceber uma sensível seriedade sobre o assunto, numa boa construção de situações.

Komi-san está em processo de aprendizado, e no conhecer de novas experiências

A aprendizagem de algo que nunca foi desenvolvido é um processo bem pessoal, e precisa ser contínuo. Não é como se Komi-san não soubesse falar. A questão é que a personagem realmente não sabe como começar um contato, o que dizer na frente de um(a) desconhecido(a), e principalmente, não tinha feito nenhum vínculo que não fosse o do núcleo familiar. 

Como a história apresenta, seu primeiro amigo é Tadano, e o que poderíamos imaginar é o fato dela não ter vivido diversas experiências que geralmente se vive quando uma pessoa forma vínculos, como trocar contatos de telefone, estar envolvido em jogos, sair para lugares para comer e se divertir. Enfim, alguns exemplos de coisas que são comuns ao estabelecer uma relação social.

Nesse sentido, a história faz questão de destacar, sempre aliado da comédia, que esse aprender e viver de situações não é algo tão simples e rápido. É como um aprendizado bem do zero mesmo. Leva tempo, especialmente no caso de Komi-san, até que consiga se comunicar e saiba ser efetiva na mensagem que deseja passar a um indivíduo receptor. 

De fato, durante a maior parte dessa temporada, ainda não vimos muito a protagonista naturalmente se comunicando com os outros da forma mais comum, por enquanto apenas escrevendo em seu caderninho. Mas conforme fez amizades no avançar da história, graças também ao suporte empático de Tadano, ainda que ela tenha limites do que consiga fazer, essa vivência de experiências inéditas se torna tão significativo para ela que podemos encontrar satisfação com essa mudança de paradigma na vida da personagem.

Sim, eu shippo, vocês shippam, ou não shippam, mas que teve pontinhas nesta temporada para desenvolver um romance futuro, teve, porém… Vamos deixar Komi-san aproveitar, em minha opinião que não determina nada, o romance não é algo que deva ser o foco principal.

Pra finalizar, ter essa expectativa sobre a mudança da personagem, é muito agradável, além dos constantes momentos de descontração da comédia na narrativa, num timing cômico muito efetivo em vários momentos, facilitando e muito a aproximação pela sua jornada, não esquecendo ainda a afeição causada pelos excêntricos e carismáticos personagens que estão em círculo.

E na medida que Komi-san sente novas coisas, sensações que ela dificilmente conseguia ter enquanto isolada, a aceitação sobre essa nova vivência aos poucos, vai ficando comum em sua realidade. Até que a comunicação não seja algo que cause medo ou desconforto, mas sim, algo que traga e aumente ainda mais essas pequenas alegrias vividas quando compartilhadas junto de outra pessoa.

Komi Can’t Communicate está disponível no catálogo da Netflix, aproveite.

O mangá também foi anunciado aqui no Brasil pela editora Panini, com a publicação prevista para fevereiro/2022, com pré venda na Amazon.

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