MB Movie: Musashi – Trilogia Samurai (Versátil Home Video)

Em 2012, a Versátil trouxe pela primeira vez no Brasil o box “Musashi: Trilogia Samurai“, caixa com 3 DVDs que acompanha a mais famosa adaptação para o cinema do épico livro Musashi, de Eiji Yoshikawa, que narra as aventuras do lendário samurai Miyamoto Musashi, um dos heróis nacionais do Japão. O grande ator Toshiro Mifune interpreta Musashi nessa superprodução dirigida por Hiroshi Inagaki (O Homem do Riquixá). Inclusive, a primeira parte da trilogia ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na época. E hoje vamos analisar essa trilogia, então venha conosco conhecer mais sobre essa bela edição!

Samurai: O Guerreiro Dominante (1954)

Interior do Japão, século XVII. Durante a guerra civil que toma o país, o jovem Miyamoto sonha com a glória militar, mas acaba se tornando um fugitivo. Sua vida muda quando é salvo por um monge, que lhe ensinará o caminho da espada para se tornar um samurai. 

Na trilogia, que começa com “O Guerreiro Dominante”, podemos acompanhar a vida do protagonista desde a sua adolescência, quando abandona a sua vila para ir ao palco da batalha em Sekigahara em busca de fama. O filme começa com uma trilha sonora épica composta pelo mestre Ikuma Dan que dita todos os momentos do longa.

Sobre as atuações, o maior destaque fica por conta do grande Toshiro Mifune, experiente ator que ficou bastante conhecido por seus papéis nos filmes do diretor Akira Kurosawa como: Sete Samurais, Rashomon, Yojimbo e etc. No papel de Takezo, o senhor Mifune está simplesmente esplêndido, principalmente nas cenas que o seu personagem exalta a voz. Considero a voz grave dele muito poderosa e impactante, o que torna o personagem ainda mais forte. Porém, não esperem por sequências de lutas perfeitamente coreografadas, pois o senhor Mifune não era um lutador ou espadachim. O seu forte mesmo é na atuação, principalmente nas cenas que exigem mais dramaticidade na trama.

Já a direção é de Hiroshi Inagaki, do clássico “O Homem do Riquixá”, um diretor muito competente mas que não possui o mesmo brilho de um Kurosawa em cenas de batalhas com exércitos, o que pode decepcionar alguns fãs que esperam por uma batalha grandiosa, em especial na cena da batalha de Sekigahara, que aqui fica uma passagem bem rápida e sem maiores destaques. O diretor consegue adaptar bem os textos do livro de Eiji Yoshikawa nessa primeira parte em menos de duas horas. Apesar disso, muitos sentiram falta de certas passagens como: a traição do Matahachi com a Oko enquanto o Takezo está lutando contra os bandidos, os conselhos do monge Takuan, as lembranças do Takezo em relação ao seu pai e etc.

Em resumo, Samurai: O Guerreiro Dominante é boa adaptação de seu material fonte apesar de alguns pesares, sendo o meu maior destaque a atuação magistral do astro Toshiro Mifune que incorpora esse personagem perfeitamente e nos convence que de fato ele é o próprio Miyamoto Musashi.

Samurai II: Morte no Templo Ichijoji (1955)

Após anos em busca do aprimoramento espiritual, seguindo os princípios do Bushido (o caminho do guerreiro), Musashi retorna à Kyoto para desafiar o líder da melhor escola de espadachins da região. E tem seu amor disputado pela leal Otsu e pela traiçoeira Akemi. 

Partindo para o segundo e penúltimo disco temos Morte no Templo Ichijoji, que abordará os eventos: o duelo contra Shishido Baiken, o confronto na escola Yoshioka, o primeiro encontro com Sasaki Kojiro, o duelo contra Denshichiro Yoshioka, a emboscada de mais de 70 espadachins da escolha Yoshioka e por fim o combate entre Musashi e Seijuro Yoshioka

O segundo filme já começa com o duelo entre Musashi e Baiken, que é bem rápido mas que já demonstra uma coreografia melhor de combate de espada que irá se manter por todo o filme. O ponto baixo aqui é a falta de aprofundamento do personagem (Baiken), ficando com cara de “apenas mais um” que cruzou o caminho do Musashi… Falando em duelos, esse disco não deixa a desejar na questão de ação, que é bem melhor do que o primeiro, com o destaque para a emboscada da escola Yoshioka que tenta assassinar o senhor Musashi, num belo plano sequência num campo de arroz molhado.

Além da ação, aqui temos mais espaço para a dramaticidade, com Otsu e Akemi tentando se declarar a Musashi, tendo até mesmo um confronto de palavras entre as duas. As atrizes de ambas personagens se saem muito bem em seus respectivos papéis, porém o maior brilho do filme é novamente do senhor Mifune no papel principal que continuou tão perfeito quanto no filme anterior.

Samurai III: Duelo na Ilha Ganryujima (1956)

Musashi aceita travar um duelo final com o seu maior rival, Sasaki Kojiro. No ano em que se prepara para o maior duelo de sua vida, decide viver como camponês. Nesse período, seu amor continua a ser disputado por Otsu e Akemi.

Chegando no terceiro e último disco, temos a conclusão épica com Duelo na Ilha Ganryujima, sendo o duelo derradeiro entre Musashi e Kojiro. A primeira metade do filme é dedicado ao Sasaki Kojiro, e por mais que o ator Tsuruta Koji desempenhe bem o seu papel, eu ainda assim prefiro a versão criada por Takehiko Inoue em Vagabond, pois acredito que um samurai surdo-mudo é mais atrativo do que um samurai falastrão e cheio de si.

A segunda parte do filme se concentra no momento da vida do Musashi no qual o samurai escolheu viver da colheita e plantação. Aqui temos um Musashi que deixou a espada de lado e segurou na enxada. Também temos mais da “disputa” romântica entre Otsu e Akemi pelo amor de Musashi, com uma atuação dramática belíssima pela atriz Kaoru Yachigusa, que interpreta a Otsu, assim como da Mariko Okada, que é a Akemi. Ambas estão melhores aqui do que no filme anterior.

Se aproximando do fim do longa, chegamos no duelo histórico entre Musashi e Kojiro na ilha Ganryujima, e é aqui que o Hiroshi Inagaki brilha de verdade e consegue superar os dois filmes anteriores, com um estilo elegante de filmagem e dinamismo que a cena exige. O seu desfecho é o ponto mais alto do filme e o diretor não deixa a desejar, provando que sim é possível fazer um terceiro filme até melhor que os anteriores (tendo em visto que muitos diretos falham na hora de fazer uma sequência, que acaba ficando aquém do original).

Duelo na Ilha Ganryujima é um impressionante filme da década de 50 que, com recursos tão limitados pra época, consegue realizar um resultado tão satisfatório e digno de aplausos, tanto para o diretor que nos entrega um excelente filme quanto ao senhor Mifune, que deixa sua marca na história como Miyamoto Musashi.

Em suma, Musashi – Trilogia Samurai, é uma boa adaptação dos textos de Eiji Yoshikawa que possui o seu maior diferencial em relação a todas as outras adaptações que vieram depois. A atuação magnífica e sem defeitos de Toshiro Mifune, que é a própria reencarnação de Miyamoto Musashi. O filme também é ótimo para assistir com toda a família pois não possui cenas com violência gráfica e nem cenas de sexo ou nudez. Um box essencial para os fãs do senhor Mifune e de Musashi, assim como para aqueles que querem conhecer mais a respeito deles.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *