MB Movies: Lobo Solitário – A Série de Cinema Completa

Em 2013, a Versátil Home Video lançou o inédito Lobo Solitário – A Série de Cinema Completa, uma caixa com 3 DVDs que traz os 6 cultuados filmes baseados no clássico mangá de Kazuo Koike e Goseki Kojima¸ uma obra-prima dos quadrinhos japoneses que influenciou grandes nomes do cinema, como Quentin Tarantino, John Carpenter e Frank Miller, além de ter inspirado outros filmes, como o clássico de Sam Mendes, Estrada para Perdição (1998).

Para aqueles que nunca ouviram falar na obra (o que acho difícil), segue uma sinopse básica: Vítima de uma conspiração do clã Yagyu, o samurai Itto Ogami, o executor oficial do Xogum, tem a esposa assassinada e cai em desgraça, acusado de traição. Ao lado do filho Daigoro, ele sai em busca de vingança, tornando-se o mercenário Lobo Solitário. É o início de uma violenta saga que envolve traições, honra, família e filosofia samurai.

A Espada da Vingança (1972)

Abrindo o primeiro disco, temos “A Espada da Vingança”, que já começa com uma atuação silenciosa espetacular do ator Tomisaburo Wakayama no papel principal. Um samurai de sangue frio que nunca hesita em realizar a tarefa que lhe foi ordenada, seja ela qual for.

Lembrando que o tanto o mangá quanto os filmes são para maiores de 18 anos, ou seja, aqui você encontrará inúmeras cenas de violência, nudez e sexo (não explícito), TODAS muito bem filmadas pelo talentoso diretor de filmes de samurai, Kenji Misumi, que infelizmente faleceu aos 53 anos mas deixou uma grande marca no cinema nipônico e inspirou diversos outros diretores. 

Aqui temos belas sequências de ação que nem parecem ter sido feitas a quase 50 anos atrás, chegando ao ponto de ser poético ver todo aquele mar de sangue num filme tão bem filmado e executado.

A Espada da Vingança é o primeiro capítulo da série de seis filmes da história trágica e de vingança de Itto Ogami e seu pequeno filho, Daigoro. Um samurai de pouquíssimas palavras e que não trai os seus princípios, e que estará presente em diversos momentos revoltantes, mas só irá agir quando entender a situação completamente ou apenas esperará o momento certo para dar o golpe final.

O primeiro filme é uma excelente apresentação a esse grande personagem vindo direto das histórias dos mangás e que se tornou também um dos maiores badass do cinema nipônico!

II – Andarilho do Rio Sanzu (1972)

No segundo filme da série Lobo Solitário, Itto Ogami luta contra um grupo de mulheres ninja a serviço do clã Yagyu e deve assassinar um traidor que planeja vender os segredos de seu clã ao Xogunato.

Concluindo o primeiro disco, temos “Andarilho do Rio Sanzu”, que consegue ser melhor que o primeiro filme, com bem mais cenas de ação que contém aquele “sangue chafariz” ao cortar os inimigos no meio que todos nós amamos (hehehe). 

Outras coisas que são melhores nesse filme do que em seu antecessor são: a maior participação do Daigoro com o pai, que além de auxiliar nas lutas, também prova sua enorme coragem, não temendo pela morte perante o inimigo que lhe sequestrou.

A trilha sonora desse longa também é bem melhor e mais marcante que o filme anterior, principalmente a que é usada no final do filme, os sons de Taiko (tambor japonês) nos deixam ainda mais imersos naquele momento e dá uma ótima empolgada no espectador.

E não podemos deixar de ressaltar também a excelente atuação da Kayo Matsuo no papel da Sayaka Yagyu, a líder de mulheres ninjas. Sua atuação é impressionante tanto nos momentos que ela é uma sádica com uma risada maléfica quanto está com medo após presenciar a técnica letal do Lobo Solitário. Pra mim, ela é um dos grandes destaques do filme, simplesmente magnífica em seu papel!

Andarilho do Rio Sanzu consegue capturar tudo o que já tinha dado certo no primeiro filme e ampliar, com bem mais cenas de ação e uma química perfeita entre pai e filho. Os fãs do mangá certamente irão amar esse filme!

III – Contra os Ventos da Morte (1972)


No terceiro filme da série Lobo Solitário, Itto Ogami se oferece para ser torturado por um grupo de mercenários para salvar a vida de uma prostituta e é contratado pela líder dos mercenários para assassinar um ex-camareiro do mal.

Chegamos na metade dos filmes da franquia Lobo Solitário, novamente repetindo o grande banho de sangue e mutilações presente nos filmes anteriores, principalmente na batalha final que o mestre Ogami enfrenta um exército de soldados e, pra mim, é a melhor sequência de ação comparado aos dois filmes anteriores.

Porém, ainda continuo com o segundo filme como o meu xodó do conjunto. A interação maior entre pai e filho, a ação frenética e diálogos pra mim são melhores, apesar que de Contra os Ventos da Morte não deixa a desejar. 

Ainda temos a interação entre pai e filho nas batalhas, porém apenas mais pro final do filme, assim como as cenas de ação, e o conversa entre o Lobo Solitário e o Samurai que se tornou um mercenário após ter sido expulso de seu clã por ter abandonado seu posto. É muito bonito e rico da filosofia dos samurais, por mais que eu ame os diálogos e cenas de ação do segundo filme, tiro o chapéu para essa passagem do longa!

Um pequeno diferencial que esse filme possui dos anteriores é que temos pela primeira vez um encerramento cantado e não mais instrumental. O intérprete da música não me pareceu uma voz conhecida, mas é bem agradável a sua forma de cantar, fora a letra que é muito boa e bem escolhida para o momento que foi introduzida.

Contra os Ventos da Morte apesar de um começo mais tímido ainda sim é um filme que conta com a marca do diretor e dos textos precisos do mestre Kazuo Koike, com passagens que nos mostram mais dos ensinamentos do caminho dos samurais e, nos momentos finais da trama, temos aquele verdadeiro espetáculo de carnificina que somente Itto Ogami, o Lobo Solitário, poderia nos proporcionar na década de 70. 

IV – Coração de Pai, Coração de Filho (1972)

Fechando o segundo disco, temos o quarto e antepenúltimo filme da série Lobo Solitário. Dessa vez, Itto Ogami é contratado para matar uma assassina tatuada (Oyuki) e enfrentará pela primeira vez o senhor Retsudo, o chefe do clã Yagyu, e seu filho Gunbei.

Se no filme anterior tivemos um começo mais tímido/lento na parte da ação, aqui já nos segundos iniciais começa chutando portas com gosto, com uma chuva de sangue e nudez frontal que é protagonizado pela assassina Oyuki, interpretada de forma magnífica pela atriz Michi Azuma, que possui tatuagens assustadoras nas costas e em seus seios, o que acaba sendo parte de sua estratégia já que, com a atenção do inimigo sendo desviada para os seus peitos, ela aproveita pra cravar a sua lâmina no coração de seus oponentes!

Uma personagem letal e muito bem escrita pelo mestre Koike que só iremos descobrir sobre seu passado triste mais pra frente na trama. Todos os momentos finais da atriz em tela, pra mim são brilhantes. Os diálogos com o Lobo Solitário chegam a ser tocantes e é uma coisa de gênio, só podia mesmo ter vindo pela mente brilhante do mestre Kazuo Koike. Disparado, a melhor personagem do quarto filme! 

E como diz o título do longa, “Coração de Pai, Coração de Filho”, aqui temos mais cenas da relação entre pai e filho. Itto Ogami continua sendo um pai severo, mas ao mesmo tempo amoroso, do jeito dele, claro, mesmo sem se expressar com palavras ou com demonstrações de carinho, você percebe em seu olhar o quanto ama o seu filho e o quanto ele é importante em sua vida. Mais uma vez, envio meus aplausos para as atuações dos atores Tomisaburō Wakayama (Itto Ogami) e Akihiro Tomikawa (Daigoro). A química e sincronia de ambos é perfeita, eu não conseguiria pensar em atores melhores que esses para desempenhar tais papéis!

Apesar de ser spoiler, não posso deixar de comentar a espetacular sequência final do filme, para aqueles que nunca leram o mangá e nem curtem nenhum tipo spoiler, vão assistir ao filme e depois volte nessa review!

Dito isso, na cena final, ao invés do Itto Ogami caminhar calmamente para longe como nos filmes anteriores, vemos o Lobo Solitário, após enfrentar um exército de assassinos, sair de lá completamente ferido e mancando, e mesmo assim ele continua a sua caminhada e agora mais do que nunca para um futuro ainda mais sombrio e mortal!

V – Na Terra dos Demônios (1973)

No quinto filme da série Lobo Solitário, Itto Ogami é desafiado por cinco guerreiros. Cada um deles possui um quinto da taxa do pagamento para um assassinato e um quinto das informações de que ele precisa para completar sua missão.

O penúltimo filme da hexalogia começa demonstrar um pouco de desgaste. Não que esse seja um filme ruim, pois ainda conta com uma ótima direção e uma cena final tão violenta quanto os filmes anteriores, porém, eu sinto que lhe falta mais “alma”.

O mistério acerca da informação que o Lobo Solitário precisa reunir com os cinco guerreiros é interessante e tem um bom desfecho, mas não foi o suficiente pra, na minha opinião, considerar essa uma obra prima. Infelizmente, não está no mesmo nível dos filmes anteriores.

A cena que mais gostei foi a demonstração de coragem do filho do Lobo, o Daigoro, que mesmo apanhando não contou para as autoridades quem foi a moça que roubou a carteira de um importante Lorde, pois ele tinha jurado para a ladra que não contaria. O desfecho e a mensagem que é passada nesse “mini arco” é bonita e me agradou mais do que a trama principal deste quinto capítulo da saga do Lobo.

Na Terra dos Demônios é um ótimo exemplo da frase “às vezes, menos é mais”. Mesmo que ainda continue sendo prazeroso ver o Lobo retalhando samurais e o Daigoro ajudando o pai em batalha, ainda sim essa é uma fórmula (de história de vingança) que, ao meu ver, precisa de cuidado na hora de trabalhar pra não se desgastar e se alongar mais que o necessário.

VI – Paraíso Branco no Inferno (1974)

No sexto e último filme da série Lobo Solitário, vemos a batalha final entre Ogami Itto e o clã Yagyu.

Antes de mais nada, é preciso dizer que o sexto e último filme foi feito em 1974, ou seja, dois anos antes do mangá ser concluído. Então, fica impossível adaptar o final original da obra. O filme não dá um final original, deixando a conclusão em aberto, o que pode não agradar a muitos, principalmente aqueles que nunca leram a obra original. Entretanto, fica praticamente impossível não despertar o interesse em recorrer ao mangá após o final do filme. 

Até onde pesquisei o confronto final entre Itto Ogami e Retsudo Yagyu nunca foi adaptado numa obra cinematográfica, o que eu acho uma enorme pena, ainda mais com o elenco fantástico dessa hexalogia. Também não entendo o motivo de não terem adaptado nos anos depois que a obra original foi concluída… Apesar dos pesares, ainda mantém as qualidades dos cinco filmes anteriores, com cenas com muito sangue, ninjas com técnicas criativas/bizarras e a química perfeita entre pai e filho que é impossível não se encantar por ambos, principalmente pela criança (Daigoro). 

Paraíso Branco no Inferno não é a conclusão que muitos esperam e nem a que merecíamos, mas é a que foi possível de ser feita pra época… Assim, nos despedimos do nosso assassino favorito que trilha o caminho do inferno junto com o seu filho, que possui personalidade forte e que, assim como o seu pai, está preparado para encarar a morte de frente sem temor algum. 

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