MB Review: Lady Snowblood vol.4 (Final)
Enquanto os tempos vão mudando, Yuki faz vir à tona o intenso espírito demoníaco da vingança. Trazida ao mundo com o intuito de vingar sua família, a jovem está cada vez mais perto de concluir o seu objetivo de vida… ao deixar os alvos mais odiados por último. No quarto volume de Lady Snowblood temos a conclusão épica da história de Yuki, um espírito demoníaco de vingança enviado ao mundo pela mãe que morreu ao dar à luz.
Antes de Yuki partir para os seus dois últimos alvos (Gishirou e Banzou), o mestre Koike traz o capítulo 13, “Confissões de uma fotografia indecorosa”. Aqui a nossa Shura Yuki-hime está no encalço de Seiki Nishiomi, um fotógrafo que atrai mulheres ricas para posar para suas fotos para depois registrá-las sendo violentadas sexualmente. Ele usa essas fotos para chantagear os maridos.
Por mais que eu ame ver a Lady Snowblood desferindo golpes com a sua espada que ela saca de seu guarda chuva, esse foi um capítulo que não me prendeu no começo, porém, mais uma vez, o grande Kazuo Koike se prova um roteirista bastante habilidoso e que tem noção do que está escrevendo.
Esse capítulo rende uma reviravolta surpreendente acerca do Seiki Nishiomi, e esse é o tipo de revelação que se você souber antes estraga completamente a experiência! O décimo terceiro capítulo fecha de forma estupenda, com uma das páginas mais bonitas já desenhadas pelo mestre Kamimura com tudo sendo consumido pelo fogo e o olhar vingativo fixo para as chamas Que página, meus amigos, que página!
E, enfim, chegamos ao penúltimo capítulo – e ao penúltimo alvo da Yuki – “O contra-ataque de Gishirou”. É a décima quarta história do mangá e, assim como no capítulo anterior, ele é dividido em duas partes.
Antes de falar sobre o capítulo quero pontuar aqui que a página 89 tem uma frase em inglês sem tradução (“Someone does it”). Não há uma nota no rodapé e nem mesmo uma explicação no glossário para o motivo da editora Panini ter deixado essa frase em inglês. Como não tenho acesso ao original japonês não posso afirmar se foi erro da editora ou se no volume original também é assim…
Voltando ao assunto principal dessa análise, no penúltimo capítulo as histórias de “Shura Yuki”, escritas por Gaikotsu Miyahara para atrair os dois alvos restantes para o campo, finalmente dão frutos. Todavia, parte dos planos traçados por Yuki acabam tendo uma reviravolta momentaneamente inesperada, inclusive esse é o capítulo que mais acontece plot twists, a famosa “armadilha dentro da armadilha”.
Destaque também para o tocante momento que o escritor (Miyahara) confessa seus sentimentos para Yuki e a chama de filha. Ela, por sua vez, o chama de papai antes de se despedirem e Yuki seguir em frente para concluir parte de sua vingança. Sem sombras de dúvidas, o capítulo que mais me agradou e me tirou um breve sorriso, mais uma vez o mestre Koike se provando um escritor muito habilidoso e deveras inteligente com o que se propôs.
Na página seguinte chegamos finalmente no episódio final, “Lágrimas de bambu”. O título é inspirado nas damas de bambus, ou nas cestas de abraços, que eram feitas no Japão na Era Meiji. Aqui temos uma grande complicação nesse ultimo assassinato, o homem que a Yuki deve ceifar sua vida para completar sua vingança tem uma filha jovem que tem apenas ao pai. Curiosamente, esse capítulo foi adaptado no live action de 1973, porém essa parte é a segunda ou a terceira do filme, já aqui no mangá ela é a última. Para aqueles que assistiram o filme antes de ler o mangá (o meu caso) já sabe qual a decisão a Yuki toma em relação ao Banzou. Porém, as últimas páginas do mangá são surpreendentemente diferentes do filme, sendo bem mais “positivo” e “feliz” do que o final trágico do live action da década de 70, protagonizado por Meiko Kaji.
Apesar de preferir um pouco mais o final do filme, onde os resultados da vingança gera ainda mais vingança, eu seria injusto em dizer que o final original do senhor Koike é ruim, por mais que destoe um pouco da série em si – que é uma obra recheada de mortes, violência física e sexual contra mulheres. Além, claro, das várias cenas de apreensão, chega ser uma surpresa agradável que o senhor Koike dê para a Yuki um final mais bonito para encerrar o ciclo da vingança, porém sem deixar os leitores, e principalmente os seus inimigos, esquecer que: “A mulher em seu caminho de vingança jogou fora seu coração há muito tempo!”
Em resumo, Lady Snowblood é uma ótima experiência de leitura, rica em certos detalhes da Era Meiji, um alto nível de violência e cenas de sexo, além da arte maravilhosa do saudoso Kazuo Kamimura e a escrita impecável do mestre Kazuo Koike.
Entretanto, não coloque na sua cabeça que você encontrará em Lady Snowblood um “Lobo Solitário 2.0”, pois você pode acabar sair frustrado no primeiro volume. São histórias e propostas diferentes, e considero que cada uma carrega sua própria identidade e genialidade do mestre Koike.
Pra finalizar, fica aqui a minha recomendação da versão live action da obra, principalmente para aqueles que não curtiram o tanto de cenas de sexo presente no mangá. Em Lady Snowblood de 1973 não há nenhuma cena de nudez ou sexo, apenas as cenas de gore, então dá pra assistir em casa com quase toda a família num domingão a tarde (hehehe).
Já em Lady Snowblood II: Uma Canção de Amor e Vingança, de 1974, há uma cena de sexo (não explícito) que pode incomodar alguns espectadores, mas reforço a recomendação de ambos os filmes, principalmente o primeiro que graças a atuação magnífica da Meiko Kaji no papel principal conquistou até o diretor Tarantino, que a homenageou em Kill Bill, e após assistirem o filme dificilmente você também não ficará apaixonado pela senhorita Kaji.