MB Review: My Broken Mariko – Entender é melhor que persistir

Recentemente, uma das minhas obras mais aguardadas do ano de 2022 foi publicada. My Broken Mariko, da autora Waka Hirano, foi lançada no Brasil pela editora JBC, e confesso que desde seu anúncio eu contava os dias para que eu finalmente pudesse ter esse mangá em mãos. Bem, após minha releitura, eu de fato pude ter mais certeza do porquê essa é quase uma leitura obrigatória e que traz uma visão pouco explorada, mas extremamente importante, das relações humanas e sobre a vida em si. 

Lembrando que essa análise sobre a obra partirá do pressuposto de uma resenha sem spoilers, analisando somente seu contexto e os efeitos na sociedade.

A Narrativa

My Broken Mariko explora a trama de Tomoyo Shiino, que apoiou sua amiga Mariko durante anos de abuso, abandono e depressão. Por mais horríveis que sejam suas circunstâncias, a amizade delas tem sido a única constante reconfortante na vida de Mariko, e na de Tomoyo também. Certo dia, Tomoyo é surpreendida pela notícia da morte de Mariko. Em estado de choque, ela decide descobrir o motivo pelo qual sua amiga cometeu suicídio.

Em uma pincelada rápida sobre a narrativa, toda trama se envolve no sentimento de perda e de relutância, então a sensação de angústia e medo é recorrente em cada página, o que consegue provocar ainda mais a catarse com o leitor. A sensação de desolação e vazio após uma perda são assuntos que abraçam toda a relação das personagens tratadas em seus diálogos, sendo assuntos extremamente delicados, mas que não deixam de ser explorados de forma visceral e melancólica.

Onde a narrativa mais brilha é em seu processo de evolução de personagem, em específico nossa protagonista, Tomoyo (ou Shii-chan), lidando com os estágios do luto e superando a perda de maneira única.

– O “Amor Fati”

Em My Broken Mariko, somos apresentados a depressão não pelo lado do motor motriz que é a história de Mariko em si, mas sim tendo uma visão externa do problema, não algo intrínseco sobre a tristeza da personagem, mas sua causa e efeito e o desencadeamento da melancolia em Tomoyo.

Segundo o filósofo Nietzsche, para se viver uma vida feliz é necessário seguir um ideal de pensamento intitulado de “Amor Fati”, em tradução literal o “Amar ao Destino” e a todas as coisas, sendo uma forma de enxergar a vida e o que ela traz. Esse ideal, num primeiro momento, vai contra todos os pensamentos e forma de lidar com a situação que Shiino se encontra, afinal é totalmente lógico cair em mágoas quando se perde alguém querido e próximo.

Porém, o que permeia a narrativa durante a obra é como esse pensamento estoico começa a ganhar forças pelas entrelinhas, mesmo a personagem à beira de uma extrema melancolia, a narrativa permeia o ideal que se encaixa muito bem na citação de Marco Aurélio: “Aceite as coisas que o destino lhe trás, e ame as pessoas que o destino te aproxima, mas faça isso de todo o seu coração“.

A jornada de Shii não é só sobre superar… É sobre aprender e aceitar os bons momentos com Mariko, de uma forma que toda experiência que tiveram juntas a fizessem ser preenchida por completa, superando os estágios do luto com as experiências e pessoas à sua volta.

E isso nos leva a nosso segundo ponto:

– O Budismo

My Broken Mariko raramente flerta com o metafísico, a trama toda é visceral e realista na forma de sentir e demonstrar as mágoas e tristezas dos personagens. Porém, um dos pontos principais durante a jornada é a resiliência da nossa personagem, que vem se moldando após todo o seu “caos”, como se, conforme progredisse, mais e mais se tornasse uma personagem “vazia” para que assim conseguisse se encher novamente dos bons momentos.

Para o budismo, lidar com o luto segue uma vertente de pensamento anexada ao tópico acima, a de superação.

Para Bel Cesar, psicólogo que utiliza-se da ideologia dos monges tibetanos, “A morte não é compreendida como um evento isolado, mas como uma mudança de um ciclo infindável de mudanças. Ela é uma realidade natural, uma oportunidade muito especial de transformarmos nossa mente confusa num estado mental de paz. Nesse sentido, a morte não é vista como algo mórbido e temido, mas como uma oportunidade de crescimento…”

E é justamente esse aspecto que nossa personagem principal vem adquirindo seu esclarecimento, por meio da experiência de superação, não sendo um processo otimista e nem religioso, mas extremamente mental, que a faz ter uma compreensão maior do que somente a perda de Mariko. Ela está além daquele momento único de dor, e é isso que toda trama tenta formular até o fim, de forma dramática, singela, mas extremamente compreensível.

– Vale a Pena?

My Broken Mariko” com toda certeza já entrou no top de leituras que marcaram o meu 2022 (que ainda se encontra no começo),  isso tudo graças a sua exímia narrativa, que apresenta diversas vertentes ao mesmo tempo sobre o luto, depressão e o drama, sem medo de se jogar e lidar com amarras morais, mostrando o lado extremamente cru e realista sobre todo o processo de superação e mudança, seja positiva ou negativa, não ficando somente no imaginário coletivo sobre esses temas.

Além de uma mensagem própria sobre o tema, onde por meio de todas as circunstâncias é mostrado que muitas vezes é mais válido entender a raiz do problema do que lutar com ele, é retratado a resiliência, e que de qualquer forma sejamos fortes, e não quebrados, mas juntos, de corpo, alma e experiências.

“Há pessoas que conseguem abrir seus corações e pessoas que não conseguem. Você é uma das que consegue. Ou, mais precisamente, você pode abrir se quiser”

Agradecimentos a editora JBC pelo volume cedido.

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