MB Especial: Ação Magazine

Sendo cria da saudosa Rede Manchete, me considero um grande entusiasta de tudo o que se refere à popularização dos Animes e Mangás no Brasil, a fim de saciar minha eterna nostalgia. Cresci transitando entre os animes exibidos pela SBT, Band, Globo e Record. Coleciono revistas especializadas como a Herói, Anime DO, Ultra Jovem e muitas outras. Apoiei como pude o surgimento do já extinto Canal Loading e até já quis, por conta própria, criar um almanaque  aos moldes das revistas japonesas especializadas em Mangás, mas totalmente voltado a publicações nacionais. Pensei nisso como se fosse a ideia mais original do mundo, sem cogitar que o mundo, ou mesmo o Brasil, é grande demais para ideias originais.

Após nove anos de existência, foi apenas recentemente que descobri a Revista Action Hiken, do Estúdio Armon, publicação digital que já conta com quase 80 edições e na qual teve origem o mangá Oxente, de Rhenato Guimarães, e que também publica o ótimo Sideral, de Ednaldo Alves, além de outros títulos. 

Contudo, e me desculpem pela longa introdução, a Action Hiken não é a primeira revista do gênero em nosso país. Uma pena tê-la descoberto apenas na última semana enquanto estava de passagem por uma sebo. 

Em setembro de 2011, o jornalista e ilustrador Alexandre Lancaster lançou sua própria editora e por meio desta deu início ao Almanaque Ação Magazine, projeto lançado anteriormente em formato digital, mas agora em versão impressa. A revista, que obviamente adquiri sem pensar duas vezes, começa com um motivado discurso em que o editor chefe, o próprio Lancaster, faz uma boa analogia entre Rock nacional e Mangás, destacando a mesma descrença que o gênero musical sofreu quando as primeiras bandas decidiram cantar em português. A revista também conta com algumas matérias sobre lançamentos literários e tecnológicos, que pulei por estar onze anos atrasado. Ansioso, fui direto ao que me interessava: os mangás.

A primeira edição da Ação Magazine contou com três títulos originais. O tradicional shonen, Madenka (Will Walbr); o drama esportivo Jairo (Roteiro: Michele Lys & Renato Csar / Arte: Altair Messias) e a ação automobilística Tunado (Arte:  Maurilio DNA / Roteiro: Victor Strang). Falarei um pouco sobre cada um deles a seguir.

MADENKA:

Em uma ambientação semelhante a de Dragon Ball, onde criaturas antropomórficas dividem a terra com seres humanos comuns, conhecemos Madenka, um garoto destinado a se tornar um herói. A história começa com Madenka treinando em um time de futebol, onde não se destaca por ser um dos melhores jogadores. Em seguida, descobrimos que o garoto vende graviolas em uma feira, trabalhando para um tipo de porco-do-mato chamado Bátala, que também é seu mestre. Bátala, assim como a mãe de Madenka, tenta convencer o jovem discípulo a deixar o vilarejo onde mora para seguir seu destino, mas o garoto parece mais interessado na própria rotina de interesses financeiros. O mangá também explora o folclore nacional.

OPINIÃO:

 A arte é simples, sem muita atenção aos detalhes, mas funciona. Parece ter forte influência do Akira Toriyama e o design de personagens não chama muito a atenção. Não acho que Madenka tenha sido a melhor escolha para capa de uma edição tão importante como a de lançamento. A história não me fisgou nem despertou a curiosidade, e me usando como base, não vejo o leitor ansioso por uma continuação. É a mais fraca das três histórias, mas em defesa do editor, é o que melhor se enquadra na mais popular demografia, shonen.

JAIRO

Jairo é um garoto de 14 anos que atravessa uma fase ruim em sua vida. Após ter ido morar na casa dos tios por algum motivo não apresentado no capítulo, Jairo não é bem recebido, nem conta com a simpatia de seu primo. Para piorar, começa a sofrer bullying na escola. Atingindo seu limite diante das provocações de um aluno chamado Ivan, acaba se envolvendo em uma briga. Jairo, junto de seu amigo Victor, começa a treinar boxe como meio de direcionar sua raiva e acaba se apaixonando pelo esporte. Enquanto lida com seus problemas pessoais, Jairo treina arduamente para participar das olimpíadas de 2016.

OPINIÃO:

Se antes dei a entender que não compraria a 2ª edição da Ação Magazine somente para ler Madenka, devo dizer que com certeza seguiria acompanhando as publicações para ler Jairo, ainda que este seja um péssimo nome para um Mangá. Inclusive, cheguei a dar uma rápida pesquisada para tentar descobrir se a publicação seguiu em alguma outra plataforma, mas não encontrei nada a respeito. Jairo tem uma carga dramática bem legal e envolvente, além de uma narrativa fluída. O capítulo conta com um interessante twist, quando descobrimos que na verdade o protagonista não levou uma surra, mas foi ele quem espancou violentamente o valentão que o importunava. Contava com uma boa variedade de personagens e vertentes a serem trabalhadas. A arte também é muito boa, inclusive, Altair Messias possui uma página no Instagram com mais de 2 mil  seguidores, onde compartilha seus trabalhos.

TUNADO

O tio de Daniel, Sato Kawasaki, foi um dos principais pilotos do Brasil, mas agora está paralítico por conta de um acidente aparentemente causado por seu sobrinho. Ainda assim, Sato presenteia Daniel com seu primeiro carro, um Chevette, e o incentiva a treinar para superá-lo nas pistas. Subitamente, Daniel Kawasaki se vê em meio a rachas e corridas ilegais, acreditando assim seguir os passos do tio.

OPINIÃO:

É notório o amor dos autores do mangá por carros. Ele é cheio de termos técnicos, especificações sobre motores e, tudo isso, acompanhado de uma arte detalhada. Chega a ser destoante a forma como os desenhos dos carros se destacam na obra. Mesmo com bons desenhos na obra como um todo, fica clara a paixão do artista em detalhar carros. A história bebe da fonte de Velozes & Furiosos, ou talvez esta seja a única franquia sobre carros que eu conheço para dar como exemplo. Teria sido uma história legal para passar o tempo. 

Outras duas séries foram lançadas nas edições seguintes da revista:  Expresso, por Alexandre Lancaster e Rapsódia, de Fábio Sakuda e Carlos Sneak.

Diz-se que inúmeros fatores levaram ao cancelamento precoce do almanaque que durou apenas quatro edições. Entre estes estão a distribuição, atrasos e recorrentes problemas com o site, o qual a revista pedia a todo momento para o leitor visitar e votar em seu capítulo favorito.

Particularmente, gostaria muito que a Ação Magazine tivesse vingado, mas entendo que tenha sido algo difícil, ousado e  inviável. Ainda mais em nosso país, com o valor do papel nas alturas e com cada vez mais bancas de revistas fechando as portas. Também acredito que o público alvo não tenha paciência de esperar cerca de um mês por um único capítulo, algo que diminuiria as vendas. Ainda assim, contra todas as possibilidades, torço para que um dia alguma editora consiga driblar as dificuldades e pôr algo assim em circulação novamente.

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