MB Review: Pai de Mentira
Em Pai de Mentira acompanhamos a vida de Caleb, um adulto sem muito sucesso, mimado e filho do famoso cartunista Jimmi Wyatt, em sua jornada de autoconhecimento ao tentar fugir da sombra do sucesso de seu genitor ao mesmo tempo que percebe que se tornar aquilo que mais teme: seu próprio pai.
Caleb Wyatt é filho de Jimmi Wyatt, famoso cartunista que deu origem a uma das maiores tiras de jornal que já existiu: Chapa & Chapinha. A relação com o pai não é muito boa desde seu nascimento, algo irônico, uma vez que a famosa tira trata de uma divertida e boa relação entre pai e filho.
Por sempre viver do sucesso de seu genitor, Caleb nunca precisou pegar firme em um trabalho, sempre mudando de ramo quando o anterior não lhe convinha, vivendo à sombra de seu pai até mesmo quando não desejava. Mesmo procurando ser uma pessoa diferente de seu pai, querendo ou não, percebe que todas as más qualidades de Jimmi estão dentro de si.
Mas após a uma série de acontecimentos, a vida do nosso protagonista vira de cabeça para baixo. No calor do momento, Caleb tenta encontrar um novo rumo para sua vida, mas percebe que fugir da sombra de seu pai, como sempre fez, não é o caminho certo, precisando repensar e se encontrar dentro deste turbilhão de sentimentos.
A obra consegue trazer um estudo interessante sobre uma relação familiar e como isso afeta o desenvolvimento de uma criança. A falta de atenção e a busca de aprovação pelo pai provavelmente fez com que Caleb tenha se tornado o que se tornou. Outro tema interessante tocado durante a obra é o fato de como atualmente nos tornamos mais dependentes das redes sociais e como somos falsamente abraçados pelo conforto de comentários e curtidas.
Pai de Mentira é uma obra de autobiografia fictícia, porém, ao decorrer da história o leitor acaba esquecendo deste fato, de tão bem narrada que é a história, mesclando fatos e personalidades reais, fazendo-nos acreditar por um momento que aquela história é totalmente real. O trabalho em recriar os manuscritos de algumas tiras e os materiais promocionais de época é algo tão bem feito que engrandece a obra. Algo semelhante a A arte de Charlie Chan Hock Chye, da Pipoca & Nanquim.
Com certeza uma das melhores leituras do ano. Joe Ollmann consegue criar uma obra que nos engana, choca e faz com que possamos entender a parte trágica da vida dos personagens envolvidos nesta relação familiar conturbada.