MB Especial: Anime Friends 2023

Anime Friends 20 anos, uma experiência (quase) inesquecível

Por Fábio Caparroz e Pacheco

Quinze anos atrás reencontrei um amigo do colégio que me chamou para um evento de animes. Sempre fiquei curioso em saber aonde ia aquele pessoal com fantasias que vivia no setor de periódicos vendo os mangás – naquela época as livrarias, mesmo as grandes, não contavam com um setor de quadrinhos.

Dois dias depois estava perdido pela zona norte procurando a entrada de um evento que mudaria minha vida para sempre. Era o ano de 2008, a Anime Friends estava em sua quinta edição e eu a visitava pela primeira vez.

Que dia foi aquele!!! Conhecer pessoas maravilhosas. Assistir a um show. Andar por fileiras de mangás, lojinhas de animes e salas com jogos com video-game, transmissões de animações japonesas e um show com música que anos antes tinha ouvido apenas na extinta TV Manchete. O coração queria sair pela boca e só podia pensar “quando é o próximo?”.

Foi depois disso que comecei a ler mangás e assistir animes. Battle Royale e Claymore. Todos os meus preconceitos sobre o mundo otaku caíram, comecei a procurar quadrinhos na Gibiteca da Vergueiro e anos depois, a escrever aqui na MB.

Nesses quinze anos acompanhei eventos lotados como Ressaca Friends e Anime Dreams, pude acompanhar as últimas edições da ANIMECON em São Paulo. Pois é! Já tivemos muitos encontros diferentes por ano, mas alguns acabaram.

Nestes quinze anos frequentei Animes Friends lotadas. Com caravanas do país inteiro e cosplays internacionais. Um evento com horas de fila para entrar, com o passar dos anos ficou minguado e, na última edição, antes de iniciarmos o distanciamento social devido à pandemia de covid-19, parecia que não o teríamos mais por muito tempo.

Em 2022 pudemos acompanhar mais uma edição e com casa lotada. Fazia muito tempo que não podia ver isso. Com a reabertura das atividades, os eventos voltaram a encher com um público ávido por algum tipo de atividade fora de casa. Parecia um renascer da Friends. Mesmo com uma variedade menor de atividades, o fôlego estava renovado e uma promessa. A de um Anime Friends inesquecível para a comemoração de vinte anos.

Em um final de semana com o anúncio de novos títulos e pavilhão cheio, a Anime Friends 2023 acerta nas atrações, mas erra no formato.

Foi grande a expectativa para a edição de 20 anos do evento. Desde o encerramento no ano anterior, os organizadores prometiam um encontro inesquecível entre os Friends com atrações inesquecíveis. Mas o que vimos foi um evento que não se arrisca.

O formato não mudou muito para o que víamos nos anos anteriores. A última edição ainda parecia ter atividades e estantes. Permanece com jogos e estandes de editoras e figures como estamos acostumados e a aposta principal deste ano foi no palco de shows.

Os shows animaram o público com bandas como Scandal, Survive Said the Prophet, Burnout Syndromes e Flow, a banda mais aguardada no palco com os clássicos de Naruto e Dragon Ball que a levaram ao estrelato, com uma performance incrível que agitou o público do início ao fim. A organização acertou na escolha da atração e do espaço que esse ano foi no fundo do pavilhão e fechado para não atrapalhar as outras atividades. Contudo, erros estratégicos foram cometidos. O primeiro foi contarem com um espaço que comporta um público bem menor que o esperado para uma banda desse porte. Além do pouco espaço, uma pilastra e a torre de som atrapalhavam a visão de parte considerável do público e o som por vezes apresentou problemas.

A apresentação de novos títulos para o público durante o evento é um ponto positivo. Tivemos também novidades com a @paninimangas apresentando a box de Chainsaw Man, exemplares de Berserk #41 em sua maleta exclusiva e aventais de Gokushufudou para promover o novo título. A @editorajbc realizou duas rodadas de anúncios em seu estante. Uma com os títulos nacionais dos selos Start e JBStudio e para os títulos internacionais. A primeira com um bate-papo entre editores e os autores Max Andrade (com Tools), Cah Poszar (com Jornada Fantástica) e Magenta King (com 9 Horas), além de um vídeo com uma rápida fala de Amanda Freitas para anunciar The Flower Pot: o começo. Entre os títulos estrangeiros tivemos o anúncio de mais três de Junji Ito (com No Longer Human; Kai, Sasu e Black Paradox), autor querido do público brasileiro, um Inio Asano (A Gril on the Shore) e Yumi Tamura (com Don`t Call it Mystery). Percebemos que a editora tem apostado mais em relançamentos de obras nacionais ou em títulos novos de autores já consagrados, além das novidades já anunciadas anteriormente. Atitude que ajuda a manter o público aquecido enquanto busca por novidades para o próximo ano.  

Quanto à editora NewPop, parceira do evento, os anúncios foram realizados em um dos palcos do evento com títulos voltados sobretudo para público de BLs. Anunciaram Priest (com Guardian e Sha Po Lang), Mo Xiang Tong Xiu (com Heaven Official’s  Blessing e Scum Villain’s Self-Saving System), Suu Morishita (com Yubisaki to Renren), Yu Chenhuan (com We Best Love) e Misaki Takamatsu (com A arca dos canários).

Contudo, estranha que nem todas as editoras tenham se utilizado deste espaço para seus anúncios. É o caso da @devirbrasil que preferiu se pronunciar por meio de live no YouTube com o @foradoplastico, estratégia certeira para driblar os valores altos cobrados pelo espaço no evento. Contudo, mesmo sem um espaço da Devir no pavilhão, garantir que a editora anuncie seus novos títulos de mangás dentro do evento seria positivo para fortalecê-lo.

Os valores cobrados parecem ter prejudicado não só as editoras que não puderam comparecer, como também alguns dos participantes que este ano contaram com uma interatividade menor. Editoras como a JBC que no ano anterior contavam com um espaço maior, este ano tiveram de reduzir para poder contar com o espaço de bate-papo com artistas, produtores e anúncios. Algo que seria muito bem-vindo nos palcos, gerando mais interação e ajudando a variar as atividades deste que por vezes foram uma repetição dos anos anteriores.

O público deste ano era composto em boa parte por famílias, tendência presente desde 2022. Se o evento perdeu características comuns às edições anteriores e pouco tem inovado, acerta ao procurar novos públicos para se manter em pé.

A AF foi boa, mas segue uma receita pouco inovadora e por vezes faltando ingredientes. Por ser a comemoração de 20 anos, esperávamos algumas inovações especiais. É bom que a organização invista em novos públicos, mas não pode perder de vista os frequentadores de longa data.

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