MB Review: Come to Hand #1
O primeiro mangá comercial da autora Sei está sendo publicado no Brasil pela Editora NewPOP. Originalmente em volume único, a boa receptividade por parte do público leitor fez com que o mangá tivesse uma continuação, adicionando mais um volume ao título.
A arte delicada de Sei converge naturalmente com a proposta da revista onde o seu título foi publicado, a “Mimosa” da Leed Publishing, que possui parceria com a Editora NewPop para publicações de suas obras no Brasil.
Miharu é um professor cansadíssimo e sobrecarregado, algo que temos como regra em qualquer parte do mundo, e acaba desmaiando na rua. Desnorteado, acorda em um estúdio de tatuagens após ser salvo por Arashi. A experiência de ver um homem tatuado pela primeira vez o deixa perceptivelmente desconfortável, então ele acaba inconscientemente demonstrando essa inquietude.
É interessante considerar que muitas pessoas no Japão ainda nutrem receios contra tatuagens, já que as irezumi historicamente eram associadas a grupos da yakuza e pessoas que haviam sido presas. As tatuagens foram, inclusive, proibidas no Japão durante parte da era Meiji. O choque inicial do protagonista em “Come to Hand” é algo que ainda acontece nos dias atuais.
Apesar de um primeiro momento desconfortável, Miharu logo reconhece a ajuda de Arashi e decide encontrá-lo novamente. A partir deste ponto, há um desenvolvimento afetuoso e tranquilo que marca o início de uma nova relação que irá se aprofundar no decorrer do primeiro volume.
A autora aborda as interações dos personagens com um teor muito doce de romance, mas também insere convívios e diálogos resolutos. É possível que parte do sucesso da obra no Japão seja justamente pela construção dos diálogos, onde há uma relação pautada em uma excelente comunicação entre Miharu e Arashi, principalmente partindo da personalidade direta de Arashi, mas que não ofusca a sinceridade de Miharu.
Embora o mangá não tenha o apelo de relações aceleradas e imprevisíveis, a construção de um romance onde as pessoas são mais abertas sobre seus desejos e percepções também é uma experiência atrativa de leitura. A narrativa cai em alguns tropos comuns, mas transmite uma sensação serena para dias onde desejamos histórias gentis e calmas, sem desentendimentos na comunicação, mas com conexões atenciosas e encantadoras. Mesmo no momento em que poderia haver um conflito entre os protagonistas, ele é conduzido de modo tranquilo.
A escolha de ser classificado como recomendável para +18 é curiosa, considerando que não há um conteúdo realmente muito explícito e o mangá é trabalhado por uma perspectiva mais jovial e inocente do que é o amor romântico. Mesmo que seja um envolvimento entre dois adultos, há a sensação de um grande frescor de novas descobertas e relações.
Embora não tenha as tribulações que muitas vezes adicionam uma tensão ao imaginário do leitor, a maturidade da boa comunicação e aquele “frio na barriga” característico de novas relações são o que chamam atenção na obra.
O primeiro volume também conta com um casal paralelo no capítulo extra!
A edição tem uma qualidade física com bom acabamento, sobrecapa com orelhas e material confortável para leitura. O papel interno é offset branco, e não possui muita transparência.
“Come to Hand” é uma obra que instantaneamente nos faz lembrar da música Todo Amor que Houver Nessa Vida, quando Cazuza criou o icônico trecho “eu quero a sorte de um amor tranquilo…”!
Ansiosos para o volume 2?