MB Review: O Jardim das palavras
Makoto Shinkai é um nome recorrente relacionado com a alcunha de “novo Miyazaki” e, embora seja uma alcunha bastante discutível, suas produções animadas ganham cada vez mais espaço.
Your Name foi sua primeira produção a alcançar uma escala mundial, mas suas produções anteriores merecem uma devida atenção. Alguns podem ter conhecido o autor após o lançamento de Your Name, mas ele figura por aqui a anos com outras obras, as adaptações dos seus filmes animados em mangás, chegando inicialmente pela Panini através de Voices of Distant Star (2010), e posteriormente pela New Pop, através de 5 centímetros por segundo (2015), e O Jardim das Palavras (2016), tema deste review. Uma história sobre dias chuvosos, sonhos e a caminhada entre adolescência e vida adulta.
A EDIÇÃO
O projeto gráfico de O Jardim das Palavras é o mesmo utilizado em 5 centímetros por segundo, formato 12,6 x 18 cm, papel offset, com páginas coloridas no começo, e publicado em um volume tanko com 200 páginas. A primeira publicação tinha preço de R$16,00, recebendo uma posterior reimpressão no valor de R$18,00, preço atual da edição.
É uma boa edição no quesito gráfico, boa colagem, sem risco de parecer uma sinfonia de crecs na passagem das páginas, nenhuma transparência, valorizando a arte de Midori Motobashi. No quesito texto, não percebi grandes erros, com exceção de alguns pontuais. Em geral, é uma edição bem fofinha e ainda pode ser encontrada facilmente, mas sobre o que fala o título?! Vamos entender um pouco mais da história.
A HISTÓRIA
Sinopse: Baseado no filme de Makoto Shinkai, “O Jardim das Palavras” é uma história tocante entre um casal unido pela chuva. Takao Akizuki é um colegial que sonha em ser sapateiro e passa os dias desenhando e criando novos modelos. Numa manhã chuvosa, em uma de suas escapadas para desenhar, conhece Yukari Yukino no jardim. Os dois passam a conversar e uma conexão especial nasce, agora, sempre que chove durante a manhã, os dois se encontram no jardim.
Como um vago trovão.
No céu nublado, trazendo a chuva…
Se for, faz-me companhia?
Com as breves palavras citadas acima, o mundo de Takao Akizuki se modifica. O que poderia se resumir a uma primeira paixão acaba por nos lembrar que a vida é feita de diferentes momentos.
Kotonoha no Niwa foi publicado na revista Afternoon em 2013, cuja demografia é seinen, voltada ao público de jovens adultos. Dito isso, seu tema principal acaba por encaixar perfeitamente na demografia, refletindo a vida daqueles que estão entre o fim do período escolar e a entrada na vida adulta, a insegurança, as pressões e como lidamos com isso, e embora existam agentes externos que impactam na nossa relação com essas mudanças, Makoto Shinkai, autor da obra, acaba se focando na simples mensagem “Temos que seguir em frente, e nem sempre é possível seguir em frente sozinho”.
A história apresentada nesse one shot tem como personagens principais Takao Akizuki e Yukari Yukino, dois completos estranhos que se encontram em um pequeno jardim. Takao é um estudante do colegial (Equivalente ao Ensino Médio no Brasil), tem 15 anos e sempre falta às aulas em dias chuvosos, aproveitando a monotonia da chuva para desenhar seus sapatos, dado seu sonho de ser sapateiro. Após encontrar Yukino, uma adulta que passa seu tempo no mesmo local, começam a se aproximar, sempre esperando que chova mais um dia, lentamente conhecemos um pouco mais sobre os personagens, e embora estejam em momentos diferentes da vida, é possível compreender o que levou ambos aquele lugar, e seus motivos de se aproximarem.
Devo citar que O Jardim das Palavras é uma das histórias que mais gosto do Shinkai, mas também é uma das mais problemáticas. Embora os questionamentos e a relação dos personagens seja muito interessante de se acompanhar, ainda é um casal formado por uma adulta e um adolescente, e sempre me questiono se não seria mais interessante que a história se desenrolasse em um contexto em que o Takeo estivesse na faculdade.
Porém, a história é incomparável a outras que se utilizam do mesmo artifício de diferença de idade, aqui, não temos um mero fetichismo da relação, mas o uso da diferença para dialogar com ambas as faixas de idade, a busca por um sonho e a desilusão com o mesmo, acabam muito bem representados na história, mas tem alguns pontos negativos que devem ser citados.
A arte e o seu uso no mangá não são exatamente os pontos positivos na obra. Midori Motobashi foi a responsável pela arte, foi seu primeiro trabalho a se tornar um tanko e mesmo que existam bons momentos, e a arte seja consistente, fica a impressão de que os lugares e reações dos personagens não passam o sentimento que poderiam. É fato que nesse momento a animação acaba impactando em minha análise, longe de ser meu intuito comparar mídias tão distantes, mas adaptações de animações tendem a ter dificuldades em passar os sentimentos que seus materiais base passam, e isso se torna mais evidente quando a adaptação é fiel ao original.
Creio que é um bom título como um todo, mas pode ser ainda melhor para quem não conhece o original, lembrando que o ritmo do mangá é bem monótono em diversos momentos, ganhando força conforme nos aproximamos dos personagens e suas histórias.
O Jardim das Palavras é uma história simples e sem grandes eventos, mas acredito que isso acaba por ser sua força, a partir dos pequenos detalhes e a relação dos personagens somos tragados, a chuva que os molha não é diferente da que nos molha, seus sentimentos e decepções também podem ser sentidos por nós.
É inegável que Makoto Shinkai não é um gênio, mas suas obras tem o poder de trazer diferentes sentimentos, aqui, nós somos lembrados que nem sempre uma história precisa de ser grande, as vezes só precisamos de um bonito e sincero romance para nos abraçar em dias chuvosos.