MangásPanini

MB Review – Jojo’s Bizarre Adventure: Phantom Blood

Os anos 80 foram únicos, de diversas formas. No Japão, animes e mangás eram consolidados como formas de arte, com lançamentos como Nausicaa e Akira. Nos EUA, os chamados “filmes de brucutu” estavam em alta. Na mesma época, Comando Para Matar, Exterminador do Futuro, Rambo e Mad Max estavam sendo uma troca mútua de influências. O mundo, vendo a potência que a animação japonesa era, enquanto o Japão assistia pessoas musculosas como Stallone e Schwarzenegger sendo exércitos de um homem só.

Da soma disso, nasceu uma onda muito forte nos mangás sobre a necessidade de explodir testosterona em cada página, mostrando um herói solitário e muito musculoso, mesmo que novo, lutando contra as forças do mal e sendo indestrutível. Devido a alta criminalidade do Japão naquela década, é fácil perceber porque esse tipo de história era um escapismo tão intenso. Uma sociedade que se sentia desprotegida via uma esperança nos personagens heróicos dos mangás.

Claramente, o maior representante desta onda foi Kenshiro, o protagonista de Hokuto no Ken. Não é difícil perceber como praticamente todos os mangás da época após ele foram tentativas de ser “tipo Hokuto no Ken, mas…” Até mesmo outras séries que não tentaram ser uma versão alternativa de Hokuto acabaram tornando seus protagonistas mais musculosos e com traços menos infantis, e esta onda permaneceria na revista até a chegada de mangás como Dragon Ball ou Cavaleiros do Zodíaco.

Apesar disso, existem alguns mangás que, mesmo inspirados em Hokuto, conseguiram criar uma identidade própria e se desvincular do cordão umbilical do Punho da Estrela do Norte.

Hoje, vamos analisar o mais bizarro deles.

Em 1º de Janeiro de 1987, chegava a revista mais famosa da Shueisha uma obra de Hirohiko Araki. Juntando Hokuto no Ken com fatos históricos e vampiros, Jojo’s Bizarre Adventure estreava.

Sinopse

A primeira cena do mangá é um sacrifício em prol de uma máscara de pedra com dentes pontiagudos e um chifre. Logo depois vemos a real ambientação: O mangá se passa na Inglaterra, ao fim da Era Vitoriana. George Joestar sofreu um acidente que o levou a quase morte. O acidente causa o falecimento de seu cocheiro e sua mulher, mas seu filho recém-nascido continua vivo. Dario Brando, um vigarista que passava por perto, aproveitou-se para tentar roubar os corpos. George, acordando do desmaio e vendo Dario próximo, entendeu que ele estava tentando salvar sua vida e se compromete a uma dívida de honra pro resto da vida.

Alguns anos se passaram e o garoto, agora com 12 anos, é Jonathan Joestar, apelidado carinhosamente de Jojo, e foi treinado a ser um cavalheiro e busca isso sem hesitar. Do outro lado, Dario Brando está morrendo e pede para que seu filho, Dio Brando, se aproveite do favor de George e seja adotado por ele, podendo assim ter a melhor vida possível. Dio concorda com isso, jurando que vai roubar todo o prestígio Joestar apenas para ele.

Enredo

Apenas com esse começo, Jojo já mostra a que veio. Um sacrifício a um ícone de pedra. Um dos primeiros mangás, se não o primeiro, da história em que o protagonista não é japonês. E uma cena pesada e bem gráfica com uma enganação sendo uma referência a um livro clássico, já que as cenas de George e Dario são bem semelhantes a passagens de Os Miseráveis, de Victor Hugo. Além de um detalhe mais leve, com o sobrenome de Dario, Brando, sendo uma referência ao ator Marlon Brando.

Pouco tempo depois, já fora da sinopse, somos apresentados ao porquê desta obra ser “mais um Hokuto no Ken da vida”. Jonathan, agora crescido com seus 20 anos, é arqueólogo e busca entender a máscara de pedra do começo da narrativa. Dio, em um momento específico, consegue usá-la e torna-se um vampiro.

Para combater seu meio-irmão, Jojo aprende a usar o Hamon, uma técnica que se baseia na respiração, mas visualmente é mais uma versão do Hokuto Shinken. Ainda assim, mesmo nessa primeira parte, Jojo é único.

Arte

Referente a arte, não tem muito o que se dizer. Jonathan simula muito de Kenshiro. E Araki tem um grande problema em relação a proporções em diversos painéis, deixando a cabeça muito desproporcional ao corpo, quase como no mangá de Super Campeões.

Ainda assim, não quer dizer que sua arte seja ruim. Ela cumpre o que busca e com o passar dos anos vai sendo alterada de uma forma que não é possível associar o traço atual de Araki com o de Araki da década de 80.

História

Após a transformação de Dio em vampiro, a história muda de uma novela para ação e vai acompanhando toda a evolução de Jonathan com o Hamon e entendendo e lutando contra a horda de vampiros criada por Dio. Nesse ponto da história vemos personagens históricos da humanidade, como Jack o Estripador, sendo representados como vampiros transformados por Dio. Seu treinamento e busca por entendimento de como funciona o Hamon e porque ele é eficiente contra os vampiros culmina em uma luta final contra Dio. 

Jonathan representa todas as virtudes possíveis enquanto Dio representa tudo o que há de mal.

E, após 44 capítulos, no meio do 5º volume lançado, é encerrada a parte 1 desta saga que mudaria a história dos mangás. O protagonista muda, agora sendo o neto de Jonathan. A troca de protagonistas se torna outra das marcas registradas e únicas do mangá, uma inspiração que Araki teve ao assistir a série Roots.

No Brasil

Jojo: Phantom Blood veio para o Brasil em 2018, compilando os cinco volumes em três, assim como na edição Bunko japonesa. O acabamento é muito bom, tendo orelhas, papel offset,  13,7 x 20cm e custando R$29,90, o que hoje é o padrão dos mangás.

Atualmente, a Panini já está publicando a parte 4, Diamond is Unbreakable.

Considerações Finais

Jojo Phantom Blood é um produto de seu tempo. É inegável sua semelhança com Hokuto, assim como alguns erros e partes no meio de sua história, que são truncadas de se ler. Ainda assim, é uma história deliciosa. Dio rouba qualquer cena em que aparece com todo seu carisma e vilania. O mangá abraça a breguice de novela mexicana que seu início propõe, assim como adiciona uma camada a mais nas lutas, não sendo apenas a ideia de um exército de um homem só, mas também boas doses de inteligência e estratégia, mesmo que um sacrifício seja necessário. Além disso, as cenas de violência são gráficas o bastante para que hoje o mangá shonen seja classificado para +18.

Apesar de muitas pessoas acharem a parte 1 a mais fraca de todas, sendo inclusive recebida na época no Japão com críticas mistas, é inegável o seu valor além de ser um mangá bem divertido se você é fã de algo que mistura o estilo anos 80 brucutu com toques de A Usurpadora.

Isso porque nem foram citadas as diversas referências musicais, ponto que ficou muito famoso com o passar do tempo na obra. Aqui, apenas para citar uma das referências mais diretas, Dio tem seu nome baseado na lenda do Black Sabbath, Ronnie James Dio.

Se você quiser adquirir seu volume e entrar para a turma dos fãs de JoJo, pode encontrá-lo na Amazon ou na Loja Panini. 

Um comentário sobre “MB Review – Jojo’s Bizarre Adventure: Phantom Blood

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *