MB Especial Meiko Kaji: Female Prisoner Scorpion – Beast Stable (1973)

Female Prisoner Scorpion: Beast Stable (Joshu Sasori – Kemono Beya) é o terceiro filme da saga da Sasori, seguinte de Female Prisoner 701: Scorpion e Female Prisoner Scorpion: Jailhouse 41 (ambos de 1972). É o último filme sob a direção do Shunya Ito e o penúltimo com a estrela Meiko Kaji no papel principal. 

Após os eventos de Jailhouse 41, Nami Matsushima é procurada e está foragida. O filme começa com uma tentativa do detetive Kondo e seus oficiais de prendê-la no metrô. Após falharem na captura, vemos que Nami consegue se refugiar com uma mulher que tem um irmão com deficiência mental e que, coincidentemente, essa mulher (Yuki) tem o mesmo nome da amiga da Nami do primeiro filme (porém não tem nenhuma ligação e a atriz também é outra). E, após um certo evento, vemos que não só a polícia que está em seu encalço, como também uma ex-companheira de cela da Matsushima que deseja vingança.

Female Prisoner Scorpion: Beast Stable é, sem sombra de dúvidas, o capítulo narrativamente falando mais “ok” da saga da Sasori, se comparado aos dois filmes anteriores. Ainda temos o senhor Ito bem inspirado na direção e uma Meiko Kaji com total domínio de sua personagem, porém o filme peca em certos momentos e se alonga desnecessariamente (sim, estou falando de você, cena do esgoto) e traz um desfecho que, apesar de bom, está longe de ser um encerramento magistral como acontece com o filme anterior – que se consagra como uma obra-prima.

Falando nas cenas que eu simplesmente amei, temos logo de cara o que pra mim é a melhor cena de abertura de toda a franquia. A famosa sequência da “corrida da Sasori com um braço decepado preso ao seu pulso”, onde o detetive Kondo dá voz de prisão a Nami que estava no metrô e se algema a ela, porém ela consegue o prender na porta do metrô e assim desfere golpes com uma faca. Ela então corre pela cidade com um braço decepado preso ao pulso enquanto ao fundo toca a música tema da personagem (Urami Bushi).

Apesar deste ser o tipo de cena que temos que desligar o cérebro para não ligar a lógica de que seria impossível alguém arrancar o braço de alguém com simples golpes de faca, é uma cena extremamente poderosa e impactante que imprime a identidade criativa do senhor Ito, algo que o próximo diretor que dirigiu o quatro filme infelizmente não tinha. 

O próximo ato é também digno de nota e simplesmente impecável. Aqui é mostrado o paradeiro de Nami, que está num cemitério a noite tentando se libertar da algema enquanto segura com a boca o braço amputado do detetive. A senhorita Kaji representa de forma impressionante um animal acuado, vemos em sua expressão o medo em seu olhar e uma cena dessas também acaba causando medo em quem está por perto. Mais uma vez, a atriz se provando com sua atuação magnífica que é parte fundamental e é o coração dessa franquia, sem ela não seria a mesma coisa. E é nesse momento que conhecemos Yuki, uma mulher que vende o seu corpo por dinheiro para sustentar a si próprio e ao seu irmão, que sofre de problemas mentais e que a abusa sexualmente. 

Dentre as personagens criadas nessa série, a Yuki com certeza é a mais digna de pena e uma das mais complexas. Uma mulher sem perspectiva de um futuro melhor e que acaba se entregando ao seu irmão doente a fim de “aliviar” a sua condição com graves problemas mentais. Todavia, apesar de vemos a personagem está presa a vida da prostituição, há um pequeno momento no filme que vemos Yuki pela primeira vez sonhar em algo melhor para sua vida, quando ela para em frente a uma vitrine de loja e encara um vestido chique. Ela passa pela primeira vez um batom e, em contraponto a essa cena, temos a personagem da Kaji acendendo fósforos (o ítem principal que a Yuki usa em seus programas sexuais) e observa a chama. Mais uma vez o diretor Shunya Ito imprimindo sua identidade no filme e provando que faz toda a diferença para a saga.

Além disso, nesse terceiro capítulo temos também uma das vilãs mais malignas, Katsu, uma cafetina que além de controlar o tráfico sexual de mulheres, também tem uma clínica de abortos onde realiza abortos com as próprias mãos. A cena com o taco de golf é uma das mais tensas desse filme. 

E, apesar do filme apresentar a Katsu como sendo uma ex-detenta que cumpriu pena com a Nami na prisão, ela não é apresentada nos dois filmes anteriores, mas isso dá pra ser relevado e simplesmente aceitar que as duas já se conheciam antes. Ainda mais quando vemos que há uma grande preocupação de continuidade dos mínimos detalhes do roteiro, até mesmo o paradeiro do braço amputado do detetive é mostrado e aqui temos uma provável homenagem a uma das cenas mais icônicas de Yojimbo, do diretor Akira Kurosawa, com um cão correndo pela rua com um braço em sua boca. Se foi ou não uma referência/homenagem do Kurosawa nunca saberemos, mas gosto do simples fato de terem se preocupado até com isso no roteiro!

Apesar de muitos pontos positivos, o filme dá algumas derrapadas em seus dois últimos atos. A perseguição da Sasori no esgoto achei excessivamente longa e dos 90 minutos que o filme tem eu tiraria uns 6 ou 7. O final, a princípio, se mostra confuso se não fosse por duas cenas específicas que dão a dica que a Sasori continua viva, porém, eu não entendo porque na prisão, quando ela retorna, é apresentada como uma novata/como se ninguém a conhecesse. Por mais que não fosse a mesma prisão dos dois filmes anteriores, tinham cartazes espalhados pela cidade inteira, então todo mundo a conhecia!

Em contrapartida, eu gosto do fato da Sasori ser tratada como alguém desconhecida e até mesmo um fantasma para a Katsu que passa a assombrá-la até que ela enlouqueça. E nos segundos finais, o filme até nos diz o que aconteceu com a personagem, porém se comparado ao segundo filme é uma finalização de medalha de prata. Aqui, o senhor Ito se despede da franquia que ele tão brilhantemente dirigiu, nos entregando momentos icônicos do começo até mais da metade do filme, mas com um final “ok”, mas que irá satisfazer os fãs da personagem.

Female Prisoner Scorpion: Beast Stable, apesar dos pesares, é um grande filme mesmo ficando atrás dos dois primeiros e é infinitamente melhor que o quarto filme (Grudge Song). Temos um diretor que continua muito inspirado e a incrível Meiko Kaji super confortável e em pleno domínio de seu papel, além de sua Sasori ser mais do que apenas movida por sua própria vingança, mas agora é uma espécie de símbolo destrutivo de retribuição para todas as mulheres que foram abusadas sexualmente e morta,s e firma mais uma vez na história do cinema japonês como uma das personagens mais emblemáticas do gênero de filmes sobre vingança feminina.

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