MB Review: House of Five Leaves #1

Natsume Ono mais uma vez tem um de seus trabalhos contemplados com uma edição brasileira, desta vez pela Editora Devir! Temos em mãos o volume 1 de “House of Five Leaves”, mangá seinen¹ ambientado no Período Edo e completo em 8 volumes.

Empregadores sempre dispensam Masa por não acreditarem no seu trabalho, o ronin² tem uma personalidade ingênua e retraída, então erroneamente o interpretam como incompetente para o serviço de guarda. Por seguir os regimentos dos samurais, Masa não pode aceitar serviços em áreas não correlatas, mas sua aflição aumenta por precisar do dinheiro. No primeiro volume, o protagonista conhece Yaichi, líder do grupo “Cinco Folhas”, um homem confiante e astuto que lhe oferece um emprego dentro das atribuições de um samurai, mas as atividades praticadas pelo grupo vão contra o código de leis e as convicções de Masa…

O volume 1 do mangá esclarece desde o início que o enredo é mais centrado nos aspectos emocionais do que nas habilidades físicas ou de luta dos personagens, e também prepara o leitor para conhecer diferentes personalidades que estão relacionadas ao ambíguo bando “Cinco Folhas”. Enquanto Masa e Yaichi permanecem como os eixos da obra, as demais pessoas associadas ao grupo, diretamente ou indiretamente, são criadas com uma boa execução e complementam a trajetória do Masa para atingir seus objetivos e amadurecer em sua relação com o mundo, além disso, acrescentam diferentes constituições de vida enquanto integram o teor dramático da série e a representação de laços interpessoais.

Apesar de introduzir a obra com a aparição de muitos personagens e quebrar diversos estereótipos ou expectativas criadas ao imaginarmos um mangá seinen sobre um samurai, o desenvolvimento direciona o leitor para as questões de relevância do drama, sendo possível perceber o interesse de Masa em conhecer diferentes vivências e em entender o que motiva cada pessoa que agora faz parte do seu cotidiano. Com o progresso do mangá sendo um tanto espaçado, é possível também perceber os pontos de tensão dos diálogos e absorver a importância das interações em cada cenário, existem cenas com poucas falas ou mesmo sem falas onde os traços das expressões faciais e posições dos corpos transmitem as emoções dos personagens em cada momento revelado.

Enquanto é perceptível que existe a construção antagônica entre Masa e Yaichi, ambos compartilham a curiosidade e interesse um no outro, toda essa oposição alimenta uma fixação de Yaichi pelo ronin, embora no primeiro volume seja apenas especulativa a motivação desse comportamento, já que Yaichi é um personagem igualmente complexo e enigmático. Masa, apesar da timidez e o modo mais singelo de agir, também nutre essa curiosidade específica por Yaichi e seu modo de enxergar o mundo.

Como personagem, Yaichi é intencionalmente encantador – até mesmo sedutor – e questionável, enquanto superficialmente se apresenta como potencialmente ambíguo nas suas intenções, a maioria de suas expressões ou forma de lidar com o mundo intensificam essas percepções no primeiro volume, mas ele igualmente aparenta ser uma das incógnitas complexas da narrativa, com um ótimo potencial para um desenvolvimento mais aprofundado nos volumes seguintes.

Caso você tenha interesse em se aprofundar na obra para além do mangá, ela também conta com uma adaptação em anime de mesmo título. Será que nosso samurai gentil terá uma jornada inesperada no decorrer dos 8 volumes? 


Edição brasileira da Devir

A qualidade do papel é um ponto positivo, deixa a edição bem robusta e é muito confortável durante a leitura. Possui glossário com alguns termos e honoríficos utilizados no volume, e como leitora curiosa eu observo como positiva a preservação de alguns termos originais, reforçando nuances que talvez fossem imperceptíveis em outros idiomas ou culturas. O detalhe com o título original (さらい屋五葉) na mesma fonte da edição japonesa, mas em uma escala menor, também foi um bônus interessante, já que o título recorda o shodō ³ e é um elemento harmônico na belíssima capa em preto e branco com tons fortes de vermelho. Talvez uma mudança que pudesse agradar o público brasileiro fosse a adaptação de “House of Five Leaves” para um título oficial em português.
 

Considerações extras

Acredito que há uma ousadia particular no estilo de arte da Natsume Ono, que em algumas entrevistas revela ter inspiração na arte de Yumi Tada, e também há uma construção muito memorável e repleta de personalidade, entregando emoções complexas mesmo com um traço menos detalhado. O mangá transmite, simultaneamente, uma arte forte e melancólica, com um drama um tanto sereno, sem necessariamente criar um protagonista extravagante, e onde o contexto toma mais espaço que a ação.

Apesar de Masa não representar a imagem que leitores provavelmente montariam nas suas mentes a respeito de um protagonista samurai, não significa que a obra errou no tom, eu categorizaria a construção de Masa como mais uma ação bem pensada, audaciosa e com bom contexto de Natsume Ono, principalmente considerando que foi sua primeira tentativa em uma serialização mais longa, algo que ela entregou com uma grande qualidade de narrativa.

Algumas das informações utilizadas na review foram coletadas a partir da entrevista de 2011 da mangaká Natsume Ono ao website estadunidense Giant Robot.

¹  Demografia de publicação utilizada no Japão para categorizar o perfil de leitor usual.

² Um samurai que é andarilho, sem mestre ou lorde feudal.

³ Arte tradicional de caligrafia japonesa.

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