MB HQ’s: Este era o nosso pacto – Uma odisseia empática
Muito se fala sobre “promessa”. Para muitos, essa palavra é como uma garantia de uma futura ação, um elo que estabelece uma conexão, algo como um “pacto”.
Pacto, para o dicionário: “ajuste, contrato, convenção entre duas ou mais pessoas”. Mas… para dois adolescentes, o que esse substantivo masculino significaria? Bem, é essa jornada mágica de ações e uniões que o quadrinho “Este era nosso pacto” conta. Uma aventura não só recheada de ação metafísica, mas com uma subjetividade sobre empatia e afeto tão bem estruturada que vale a pena comentar, e a propósito, bem-vindos ao MB HQs de hoje.
– A obra
“Este era o nosso pacto” é um quadrinho totalmente colorido, escrito e ilustrado pelo autor Ryan Andrews, sendo publicado aqui no Brasil pela editora Conrad. A história demonstra como tradição e lenda se encontram na noite do Festival Anual de Equinócio de Outono, quando a cidade tradicionalmente se reúne para lançar lanternas de papel rio abaixo. As lendas contam que, depois de sumir de vista, as lanternas se juntam com a Via Láctea e se transformam em estrelas, mas será que isso é verdade? Ben e seus colegas estão determinados a descobrir para onde as lanternas realmente vão e, para garantir o sucesso em sua missão, eles fizeram um pacto com duas regras simples: 1° ninguém volta para casa; 2° ninguém olha para trás. O plano é seguir o rio em suas bicicletas pelo tempo que for preciso para descobrir a verdade, mas enquanto o pacto vai sendo quebrado pela turma, Ben continua e, ao seu lado, inesperadamente está Nathaniel, o único garoto que não parecia se encaixar naquele grupo. Juntos, Nathaniel e Ben viajarão mais longe do que qualquer um já foi, percorrendo uma estrada sinuosa cheia de magia, surpresas e também uma amizade inesperada
– A Narrativa
A trama foi para mim, umas das mais surpreendentes e fantasiosas crônicas lidas esse ano, transitando sobre a mágica e a fantasia, além de abordar temas da inquietude e as dificuldades do convívio social na adolescência. Nela focamos em um grupo no começo que pouco a pouco vai se quebrando, afinal crianças ainda tem suas limitações, como horário e a preocupação dos pais, e a obra pontua isso de forma cômica e realista, até porque quem nunca quebrou promessas na infância?
Além disso, a narrativa ganha uma camada ainda mais intrínseca, onde foca no relacionamento dos personagens Ben e Nathaniel, sendo que este último era um personagem excluído do grupo, e que agora seguirá como companheiro de jornada de Ben, e, em meio a todas as adversidades no relacionamento de ambos, meio que a aventura e a mágica os unem em prol de chegar ao fim de sua jornada. Aprimorando a relação, vale citar também o urso, um ser que serve como um elo para os 3 e que consegue deixar a aventura de forma leve,bem estruturada.
– A magia
Algo que eu sentia bastante falta em alguns quadrinhos era todo os êxtase e ansiedade para o que estava por vir, ainda mais em obras em que o real e a ficção andam de mãos dadas, e, nesta trama, esse sentimento foi revivido. A cada página que passava, a ansiedade para saber o que estava por vir era maior. Cenários belos e extravagantes, tom mágicos e o sentimento do novo conseguiram me acompanhar em boa parte do tempo (e sendo sincero, fazia tempo que nenhum mangá ou hq conseguia despertar essa sensação em mim). O autor, Ryan Andrews, tem um domínio excelente na colorização e narrativa, sendo que tudo que ele constrói visualmente consegue te prender, de seu traçado a seus diálogos. É algo que desperta o sentimento do novo!
– A exclusão social
Algo que é importante comentar é a relação do personagem Nathaniel e as pessoas ao seu redor, até mesmo com o personagem Ben. No começo e mesmo em boa parte da obra, o garoto o ignorava em prol de socializar com as pessoas que também excluíam o rapaz. O motivo? Nathaniel é um rapaz nerd da ciência, aficionado e bem extrovertido quando o assunto é curiosidade e isso causava estranheza e medo nas outras crianças, então ele era afastado e ignorado, como um mecanismo de defesa social.
Segundo os pesquisadores da universidade de Basileia, deixar alguém de lado é um processo que gera culpa, e só fazemos isso porque nós buscamos características negativas no excluído, para ajudar a justificar a exclusão. Se a pessoa pode ser considerada fria e mesquinha ou se não agrega nada ao grupo, deixá-la de escanteio fica mais “aceitável” para o grupo.
O autor da obra utiliza do convívio e parceria mútua dos dois rapazes pra tentar quebrar esse estigma da exclusão, e, em meio a toda a aventura fantástica para ver o que acontece com as lâmpadas do rio, ambos começam a se entender e se encontrar como indivíduos que necessitam da experiência conjunta. O mundo…o universo é grande demais pra se ver sozinho, sempre é melhor com mais pessoas, é isso que a obra tenta passar na jornada dessas duas crianças.
– Vale a pena ?
Até onde as lanternas vão?… “Este era o nosso Pacto” é uma trama de fantasia que transita sobre o imaginário, o convívio, a arte e a dependência com maestria, tendo personagens cativantes, um enredo narrativo bem construído e cenas de cair o queixo, cada cena consegue entregar a essência artística que propõe, além de claro, ser uma aventura e tanto!.
Tudo isso pra chegar ao fim e encontrar…. Ficou curioso? Acho melhor você descobrir esse segredo por si só, mas talvez depois eu possa lhe contar, se você me prometer que esse será o nosso pacto hein!, Até qualquer hora.
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O universo é grande demais para se ver sozinho. Tudo com a companhia certa se torna uma aventura. O emocionante da jornada é perceber que nas pequenas descobertas pode-se ter um tesouro que antes não víamos.
Sua escrita com toda certeza me fez ficar totalmente curiosa a respeito da obra. Continue nós cativando.
Da sua fã☺