MB Review: Social Fiction
O catálogo de publicações da editora Comix Zone possui títulos com os mais diversos temas e discussões. Social Fiction é um desses quadrinhos a levantarem debates. Publicado por Chantal Montellier, a obra compila três contos publicados na Métal Hurlant, revista francesa de ficção científica. Foram publicadas entre 1976 e 1983 e assustam ao propor futuros sombrios e autoritários para a sociedade.
Social Fiction é escrita e desenhada por Chantal Montellier. É um material inédito no Brasil e aborda temas bem pesados, bem próximos do medo que muitos ainda sentem ao se pensar nas atrocidades que a humanidade já produziu.
Wonder City, primeiro conto da HQ, acompanha um casal que deseja ter filhos mas que precisa enfrentar a oposição dos mecanismos do Estado em que vivem. Os mecanismos são extremamente controladores, com o desenvolvimento de tecnologias que conduzem todo o processo de gravidez em máquinas. Visto que existe um controle maior sobre os nascimentos, apenas podem ser aceitos aqueles que nascem dessa forma, sendo descartada a gravidez natural.
O segundo conto, Shelter, aborda a experiência de 823 pessoas presas em um abrigo de energia nuclear. Embora a situação de todos comece relativamente bem, levando ao questionamento de sua vida anterior, já que naquele abrigo não existiria a noção de dinheiro e desigualdade, pequenas ações vão nos mostrando que o grupo que toma as decisões têm buscado para si privilégios e ferramentas de domínio. Com o desenrolar da obra temos ações cada vez mais questionáveis e uma descoberta assombrosa. Temos aqui uma crítica muito bem desenvolvida ao autoritarismo, seja as concepções de direita ou esquerda, destacando como o poder corrompe aqueles que o obtém. A história nos assusta com as ações humanas e sua verossimilhança com esses processos na realidade.
A última história, 1996, a mais curta, apresenta um homem que precisa de uma peça para o seu carro. No caminho para a loja de usados encontra um marketing assustador, as peças são expostas junto dos cadáveres que eram outrora de seus donos. A banalidade da morte é impactante e ganha ainda mais peso quando percebemos a distinção de tratamento exposta no conto.
Social Fiction é uma HQ fenomenal, seu traço e seu desenvolvimento são feitos com o objetivo de incomodar. A figura da mulher em especial é sempre bem pensada, visto que a autora busca criticar os diversos elementos do patriarcado em nossa sociedade. Não sentimos as mensagens apenas no texto, mas também no incômodo das cruéis ações ilustradas em suas histórias.
Agradecimentos a editora Comix Zone pelo quadrinho cedido para análise.